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quarta-feira, 15 de outubro de 2008
15 de outubro de 2008
N° 15759 - DIANA CORSO
Professora Simone
O nome dela era Simone, professora de Português. Ela não me tinha em grande conta, eu a achava poderosa. Entre nós houve apenas um momento marcante: certa ocasião, envergonhada de ser tão sonsa, fingi que havia colado.
Fingi para mim mesma, já que o nervosismo da pretensão de transgredir me enevoava a visão e, de fato, não consegui enxergar nada na prova da colega.
Se o feito não tinha sido grande coisa, pelo menos tentei fazer valer a intenção, contando vantagem entre meus colegas na saída da prova. Não é preciso dizer que a professora ouviu e tomou as medidas que lhe cabiam.
Inicio e fim da minha incipiente carreira criminal. Conto isso para que não se julgue que se tratava de relação de mútuo afeto ou camaradagem, que recubra ou mascare o caráter simplesmente pedagógico do que se segue.
Durante aquele ano do primeiro grau do Grupo Escolar Daltro Filho, a professora Simone determinou que escrevêssemos uma composição (era assim que denominávamos as redações) por dia, logo, sete por semana. A cada segunda-feira, reunidos em pequenos grupos, escolhíamos as menos piores para serem lidas para o resto da classe.
Obviamente, eu escrevia as sete no domingo à noite. Fora a vergonha de falar em público, o que lembro mesmo é da labuta de inventar assuntos variados e transformá-los em pequenos textos, misturada à tristeza de domingo. A música do Fantástico anunciava o fim dos tempos e eu ainda tinha que ter sete boas idéias.
Nunca duvidei nem duvidarei que a pressão ativa a criatividade. Enfrento aqui, há sete anos, o dilema da pauta em aberto com menos medo, graças àquela experiência. Ainda escrevo aos domingos.
Simone não era a Professora Maluquinha, alfabetizadora sensível do livro de Ziraldo, nem eu era uma aluna bacana de quem ela fosse lembrar. Inesquecível foi o desafio que ela orquestrou em nós. Vivências escolares definem destinos, professores tatuam almas com suas idéias, atitudes, propostas, atividades.
São os pais que precisam prover a formação moral, as bases emocionais, mas são os professores os primeiros guias de viagem. É na escola que vamos lapidar a pedra bruta que trazemos de casa.
Em nosso país, entra e sai governo e o Ensino Fundamental jamais é considerado tal, que dirá os que se seguem. Nas escolas públicas, os professores lutam contra todo tipo miséria, inclusive a do seu salário; nas privadas, contra a tirania dos clientes.
Quadro triste, mas não irremediável. Pelo menos, hoje, Dia do Professor, gostaria de fazer algo que nunca tive oportunidade: agradecer à professora Simone.
Parabéns aos meus e a todos os professores neste seu dia.
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