terça-feira, 21 de outubro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

"Príncipe do gueto"

BRASÍLIA - Uma família sai da Paraíba, outra, de Alagoas. As duas se encontram em Santo André, sonhando com um futuro melhor no sul maravilha.

Mas seus filhos se trombam numa curva da cidade e da vida e chegam a um destino trágico. Lindemberg matou Eloá com um tiro à queima-roupa na cabeça.

Uma história que começou bem brasileira e acabou num drama que seria só pessoal, não fosse o festival de amadorismo da operação que deveria salvar Eloá e acabou sendo decisiva para matá-la.

A volta de Nayara ao apartamento, o presidente de um clube de futebol no circo, papeizinhos de promotores, a perda de controle sobre um menino de 22 anos. E, finalmente, a invasão sem a devida garantia.

Fazia sentido que a polícia tivesse que invadir em algum momento.

Mas a regra número um é: só com todos os cenários e possibilidades bem avaliados e, sobretudo, com segurança. Não foi isso o que ocorreu.

Depois de cem horas para se preparar, a polícia entrou de qualquer jeito. Sem saber nem sequer onde os três estavam e que havia obstáculos atrás da porta.

A imagem mais evidente do desastre, que seria cômica, não fosse trágica, foi a do policial cambaleando numa escadinha vagabunda, demorando uma eternidade para pular desajeitadamente janela adentro.

Com um sofá na porta da sala e uma escada que não chega à janela, Lindemberg teve o tempo que não deveria, nem poderia, ter tido.

Num ponto é preciso defender o coronel Eduardo José Félix. Dizem que, "se fosse nos EUA" (onde se condenam até crianças de 10 anos), um atirador de elite teria estourado logo os miolos do seqüestrador.

Ele rebate: Lindemberg era um menino, estava sofrendo e merecia a chance da negociação. Tem razão.

Mas, se a polícia entronizou os conceitos de direitos humanos e de preservação da vida, falta-lhe preparo, estratégia, equipamento. Senão, Eloá estaria viva e Lindemberg não seria um assassino.

elianec@uol.com.br

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