segunda-feira, 13 de outubro de 2008


FERNANDO DE BARROS E SILVA

Sob nova direção

SÃO PAULO - A vitória surpreendente de Kassab no 1º turno e a vantagem inicial de 17 pontos sobre Marta na disputa do 2º turno anunciam um desfecho melancólico para a candidatura petista em São Paulo.

A não ser entre adeptos do ocultismo, ninguém mais discute se Marta pode vencer, e sim se conseguirá evitar o pior: sair dessa menor do que entrou. Há dúvidas a respeito.

A "classe média" que a petista pretendia reconquistar lhe virou ainda mais as costas. Tome-se a rica região de Pinheiros: no 1º turno de 2000, Marta teve ali 31,7% dos votos; em 2004, 24,1%; agora, 13,8%.

Marta também encolheu na zona leste, antigo reduto malufista onde Kassab se projeta com força. Mais ainda: da Capela do Socorro, na zona sul, a Itaquera, na leste, a petista foi desidratada em todo o primeiro anel periférico da cidade.

Onde cresceu foi nos confins, na periferia da periferia, em regiões de carência extrema como a Brasilândia (zona norte), o Grajaú (sul) e Guaianases (leste). Lá, mas só lá, o cinturão vermelho ainda enlaça o Kassabinho.

O mapa eleitoral produz a sensação de que Marta está sendo expulsa da cidade. Numa campanha tão rica quanto fria (a cara de São Paulo), o descaso e as reservas do eleitorado petista em relação à candidata abriram caminho para a vingança da mentalidade de província.

A vitória do DEM, tendo o PMDB de Quércia como vice e aliados como o PTB, sela a reorganização da direita na cidade após o declínio final do malufismo.

"Sob nova direção", e salpicada pela granola alternativa do PPS de Soninha, essa direita recomposta tem em Serra o seu fiador e no PSDB o anzol que fisga parte da opinião progressista.

Eleito, Kassab poderá ficar seis anos no comando de São Paulo. Seria ingênuo demais supor que seguirá tutelado pelo patrão tucano indefinidamente. O futuro, diz o povo, a Deus pertence. Mas em São Paulo parece que ele é do demo.

A propaganda petista que questiona a vida privada de Kassab é uma apelação abjeta e obscurantista. Entre a eleição e a compostura, seria melhor optar pela segunda.

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