segunda-feira, 27 de outubro de 2008


FERNANDO DE BARROS E SILVA

Day after

SÃO PAULO - Corre o risco de parecer frívolo ou lunático quem se dispõe a comentar o saldo das eleições sem olhar para o mundo sombrio da economia. Marx dizia que a história se faz às vezes pelas costas e à revelia dos homens. Deve estar certo quem pensa que os resultados municipais terão efeito muito menor sobre a vida das pessoas do que o estrago que o terremoto na finança global apenas começa a produzir.

Até Zé Carioca, o papagaio de Geraldo Alckmin, já está desconfiado de que, muito mais do que a estrondosa vitória de Gilberto Kassab, o grande cabo eleitoral da oposição deve ser a crise econômica. À medida que ela tire o gás de Lula até o final do mandato, estará enchendo o balão da candidatura Serra.

Parece banal demais? Quando o resultado das urnas decantar, é possível que se perceba sob a montanha de números algo simples e óbvio: a consolidação do Partido do Lula e do Partido do Serra, em torno dos quais irão orbitar, como satélites e coadjuvantes, os partidos reais e o jogo político até 2010.

Há, entre Lula e Serra, o PMDB, que sai das urnas fortalecido, sem nome próprio para se apresentar como opção de poder, mas grande e capilarizado o bastante para fazer com que o favoritismo da disputa penda para um ou para outro lado.

Há quase 30 anos no governo e na oposição ao mesmo tempo, o partido anfíbio e sem caráter está com Serra/Kassab em São Paulo e com Lula no país. Quem dá mais? Quem é que vai levar Geni para o altar?
Maior vitorioso desta eleição, Serra por ora apenas incorporou ao currículo o título de grande fiador e maestro da direita que se reorganizou em São Paulo sob sua batuta e sobre os escombros do malufismo. Ou ninguém sabia o que havia dentro do Kassabão, o boneco inflável?

A face real do kassabismo deve ser algo como o negativo cruel da imagem infantilizada da foto da vitória, em que o prefeito aparece ao lado de papai Serra e um monte de criancinhas -todos seus irmãozinhos no reino da fantasia eleitoral.

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