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segunda-feira, 27 de outubro de 2008
27 de outubro de 2008
N° 15771 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
A Fera na Selva
Que o escritor anglo-americano Henry James (1843 – 1916) seja um tanto desconhecido entre o grande público brasileiro é fato perfeitamente explicável, visto que apenas agora começam a surgir novas traduções e reedições de alguns títulos já traduzidos.
Há uns mais notórios do que outros. A Fera na Selva (The Beast in the Jungle), por exemplo, de 1903, não desfruta do prestígio de Retrato de uma Senhora (The Portrait of a Lady);
no entanto, A Fera na Selva é um dos mais belos, expressivos e intrigantes livros do seu século. Atores do romance: John Marcher e May Bartram; ambos jovens, ele confia a ela um pressentimento: o de que ainda está por acontecer-lhe um fato extraordinário, um fato capaz de transformá-lo para sempre.
Será como o ataque de uma fera na selva, inesperada e brutal; a fera poderá devorá-lo – ou ser morta por ele. May, de sua parte, lamenta que ele seja perseguido por essa obsessão tão inútil como causadora de sofrimento.
Passam-se os meses, anos, eles atingem a meia-idade, e a cada vez que se reencontram, May pergunta a John se já ocorreu o ataque da fera; ele diz-lhe que ainda está à espera.
Ela começa visivelmente a perder o viço, entregando-se à melancolia e ao silêncio. Em certa ocasião, John pergunta se ela esconde algo, mas não vai muito além, por medo de alguma desagradável revelação que poderá perturbar aquela amizade.
Há um capítulo essencial na história, em que os dois têm uma longa conversa. Já estão velhos. É na casa de May. Ela se apresenta com o rosto macerado, mas o olhar ainda líquido, ainda belo.
O diálogo é uma obra-prima de construção de não-ditos. Todo ele é feito de avanços e recuos, nenhum dos dois quer dar o passo seguinte e, quando o fazem, nunca é o melhor passo. May insiste em que o ataque da fera já aconteceu, ele é que não se apercebeu disso.
“Você não está sabendo... nem agora?”, ela pergunta. “Mas o que aconteceu?”, ele diz, intrigado, repetindo a pergunta por três vezes. As palavras de May, ao acompanhá-lo até a saída, são crípticas e dolorosas: “O que teria de acontecer”.
A partir dali suas conversas tornam-se mais sombrias: “Então”, ele pergunta, referindo-se ao acontecimento extraordinário, “será que ele veio no meio da noite e simplesmente passou por mim?”; ela responde que o fato transcendental veio sim, no meio da noite, mas cumpriu o que teria de cumprir. Ele é que não soube disso.
Este resenhista nunca se considerou um spoiler, pois pensa que o bom livro merece ser lido inúmeras vezes. Neste caso, porém, decide calar acerca do capítulo final, e isso com a intenção de deixar que a surpresa venha a iluminar o rosto do leitor.
Sim, o leitor também será vítima da fera na selva, mas desta vez o ataque está preparado por Henry James.
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