terça-feira, 28 de outubro de 2008



DEPOIS DAS ELEIÇÕES

Ufa! Passou a eleição. Agora já se pode novamente falar de política. Mulher e futebol terão de dividir as atenções. Durante o tempo que durou a campanha eleitoral, o jornalismo de opinião ficou amordaçado. Só a propaganda, quer dizer, a autopropaganda teve espaço na mídia.

Os políticos, que legislam em causa própria, inventaram leis que os protegem da opinião da imprensa ao longo da temporada de caça aos eleitores. Podem dizer o que bem entendem sem contestação externa.

O jogo é deles e só entre eles pode haver réplica e tréplica. Os jornalistas viram mediadores em debates tediosos. Cabe-lhes passar a palavra ou levantar a bola para o candidato chutar. É como se um clube de futebol, na semana anterior a uma decisão importante, ganhasse imunidade contra a crítica para não prejudicar o desempenho e assegurar a neutralidade.

Aproveitei, nesse tempo de censura, para tratar do assunto que mais entendo: eu. Quando cansava de mim, abordava a crise norte-americana. Claro que estava cheio de opiniões sobre os candidatos. Como não podiam ser utilizadas, acabei esquecendo-as.

A política, como o futebol, é cheia de clichês que só permanecem por falta de outra coisa para se dizer. Por exemplo, diz-se que no Brasil os partidos não têm a menor importância, que se vota em pessoas, não em partidos.

Como se explica, então, que o PMDB ficou com 1.201 prefeituras? Como se explica que PSDB, PP e PT venham em seguida, com um lote considerável de administrações? Será que o PMDB teve a sorte de contar com as boas pessoas na maioria dos municípios brasileiros? Eu voto, quando não anulo solenemente por falta de opção, em pessoas e não vejo problema nisso. Partido, como a fidelidade, é uma instituição do século XIX. Vai passar.

No Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, candidato acima de qualquer suspeita, foi derrotado, talvez por isso mesmo, pelo quase desconhecido Eduardo Paes, que passou de severo crítico do governo federal a apoiado pelo presidente da República. Um candidato que muda de lado é mais habitual e certamente parece mais confiável. Excesso de coerência assusta. A 'pessoa' Gabeira perdeu a vaga de prefeito para o PMDB.

Nem o seu charme, nem a história do militante contra a ditadura e de ex-guerrilheiro de tanga de crochê, nem a sua postura corajosa e transparente nestes últimos anos de mensalão e máscaras caídas seduziram a maioria dos eleitores. Em torno de 900 mil foram à praia, ou a algum lugar semelhante, e não votaram. Os cariocas são especialistas em eleger nulidades ou em seguir a ordem dos seus caciques. O Rio é um curral com vista para o mar.

Porto Alegre ficou limpa durante a campanha. Tão limpa que nem parece ter passado por uma disputa eleitoral. Eu preferiria que estivesse mais suja. Campanha eleitoral é como sexo. Exijo certa meleca. Ou é fria. A nova lei valoriza a campanha asséptica e cirúrgica. Hospitalar.

Cada vez mais, o único canal de comunicação entre o eleitor e os candidatos é a mídia. Tudo gravado, produzido, maquiado, corrigido com programas de computador e arrumado para vender o produto sem suas rugas e imperfeições. É o triunfo absoluto do marketing.

A campanha é um comercial entre dois blocos de ficção. Enfim, passou, estamos livres, podemos até, se quisermos, abrir os nossos votos. Como é bom, depois de meses de silêncio político, ter novamente direito à expressão. Cheguei a pensar que Obama era candidato no Brasil. Era só a ele e a McCain que se podia criticar.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma excelente terça-feira para todos nós

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