sexta-feira, 17 de setembro de 2021


Vacinação lenta e covid-19 disparando nos EUA

Desde a posse do presidente Joe Biden, em 20 de janeiro, os Estados Unidos aceleraram sua campanha de vacinação, viraram exemplo de controle da covid-19 a partir da imunização, ofereceram doses a turistas em praias e doaram milhares de doses para nações pobres.

A curva do coronavírus despencou. Na semana do dia 20 de junho, a média móvel de novos casos era de 11.133. Em 9 de janeiro, havia chegado a 253.946. Esse cenário, entretanto, começou a mudar de junho para cá, quando a curva voltou a crescer de forma acelerada.

O fenômeno coincide com a estagnação da campanha de vacinação, que, depois de um começo fenomenal, enfrenta resistência, especialmente nos Estados do sul do país.

No dia 24 de agosto, o país tinha vacinado 60,04% da população imunizada com ao menos uma dose. Na última quarta-feira, esse percentual havia subido apenas 2,5 pontos percentuais, chegando a 62,55% da população.

Para efeitos de comparação, o Brasil, em 24 de agosto, contabilizava 59,98% da população vacinada com ao menos uma dose. Na quarta-feira, registrava 67,17%. Avançou 7,1 pontos nesse período, espaço de tempo em que superou os Estados Unidos nesse quesito.

Com relação à imunização completa (as duas doses ou a única da Janssen), os Estados Unidos estão bem à frente do Brasil, mas também há desaceleração: em 24 de agosto, tinham 50,95% da população com o ciclo completo. Em 15 de setembro, esse índice havia subido para 53,43%, avanço de apenas 2,48 pontos.

O Brasil, em 24 de agosto, tinha 26,46% da população completamente imunizada. Em 14 de setembro, chegou a 35,26%, avanço de 8,8 pontos no período.

Vários fatores contribuem para o aumento dos casos e para a estagnação da vacinação em território americano. O primeiro deles é o avanço da variante Delta, que hoje é dominante no país. Campanhas de desinformação por meio de redes sociais, orquestrada por grupos conservadores anti-vacina, e a forte polarização política atrapalham o avanço das campanhas.

Nos Estados do Sul, boa parte governados por republicanos, há forte rejeição ao uso de máscaras em espaços fechados. A situação é alarmante. Um em cada quatro hospitais está com mais de 95% dos leitos de UTI ocupados.

Vários dos Estados com os mais altos índices de ocupação de leitos, como Alabama e Mississippi, também estão entre os que registram menor adesão às campanhas de imunização. Segundo um estudo do Centro de Controle de Doenças (CDC), os americanos não vacinados têm 10 vezes mais probabilidade de serem internados com covid-19 do que os vacinados.

Outra preocupação é o aumento do número de casos de coronavírus entre crianças. Dados do Children?s Hospital Association mostram que o país registrou nas últimas duas semanas quase 500 mil casos de covid-19 entre menores.

Em meio a essas preocupações, Nova York sedia, na próxima semana, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, encontro que reúne delegações de mais de 190 países. A prefeitura nova-iorquina enviou à chefia da ONU correspondência informando que exigirá comprovante de imunização dos participantes, medida obrigatória para eventos em ambientes fechados na cidade. O secretário-geral António Guterres argumentou que não poderá cobrar o certificado dos líderes globais porque a sede da ONU é considerada território internacional, ou seja, não está sujeito às leis do território americano. O tema ainda está em aberto. Se chefes de Estado ou governo irão poder acessar o plenário ou não sem se vacinar não é apenas um detalhe. O Brasil, por tradição, abre a reunião. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, afirma não ter se vacinado.

RODRIGO LOPES

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