sexta-feira, 10 de setembro de 2021


10 DE SETEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

SINAL POSITIVO EM BRASÍLIA

São altamente benéficos para o país os movimentos protagonizados ontem pelo presidente da República, que recuou das ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) proferidas no dia 7 de setembro. Embora o histórico de comportamento de Jair Bolsonaro indique a necessidade de certa dose de ceticismo, a nota de 10 pontos é uma sinalização positiva, não apenas pelo seu conteúdo apaziguador, mas pela costura que a antecedeu, intermediada pelo ex-presidente Michel Temer. Com o texto, abre-se uma brecha para a retomada do diálogo institucional entre o Executivo e o STF e para o fim de ataques pessoais endereçados a ministros, como Alexandre de Moraes, o principal alvo do mandatário e de seus seguidores nos últimos dias.

A nota indica um passo atrás de Bolsonaro na radicalização que teve o auge nas manifestações de terça-feira. O recuo é bem-vindo, mas é preciso lembrar que o presidente, em outras oportunidades, já fez acenos semelhantes. Não com a mesma relevância da declaração de ontem, é verdade. Espera-se agora que o tom moderado transborde das palavras para as ações.

Não haverá ganhadores se a crise política e institucional vivida pelo país perdurar e se agravar. Pelo contrário. Todos perdem com a balbúrdia e o caos, principalmente a população mais humilde, acossada por mazelas como o desemprego que aflige 14 milhões de pessoas, a inflação de quase 10% em 12 meses e a pandemia que ceifou mais de 580 mil vidas. A divisão contamina as relações pessoais e a tensão passa às ruas e aos mercados, que já reagiram positivamente à bandeira branca hasteada em Brasília. A harmonia entre os poderes deve ser uma busca permanente das lideranças responsáveis do país. Se conquistada, abrem-se melhores possibilidades não apenas de combater os problemas imediatos da população como de renovar a confiança no andamento de temas estruturais, como as reformas, privatizações e impasses que envolvem o orçamento de 2022.

A pauta econômica, neste momento, está praticamente congelada no Congresso, onde a articulação do Executivo é frágil, especialmente no Senado. Os ânimos exacerbados afetam indicadores como dólar, juros e se refletem na inflação, tornando a vida dos brasileiros mais dura. Por conse- quência, dificultam a retomada da economia e uma recuperação mais robusta do mercado de trabalho. A pacificação do país é um imperativo. O recuo do presidente foi aconselhado por vozes prudentes e experientes. Que estes ocupem, cada vez mais, o espaço hoje dominado por incendiários e bajuladores. 

Nunca é tarde para que um raio de bom senso ilumine o Planalto. Pode ser apenas um movimento estratégico, após ser alertado de que suas declarações, três dias atrás, poderiam se configurar em crime de responsabilidade, fazendo a palavra impeachment voltar a ser repetida com mais força. Seja como for, o Brasil acorda mais aliviado nesta sexta- feira. Mas só o tempo dirá se essa trégua é consistente ou apenas mais uma guinada no zigue-zague dos jogos de poder. Logo teremos a resposta. 

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