ALERTA ECONÔMICO SOBRE O AMBIENTE
São inúmeros e concretos os riscos que o Brasil corre em virtude das mudanças climáticas e da percepção predominante existente no mundo de uma inação do país quanto a fazer a sua parte em proteger seus biomas, especialmente a Amazônia. Esta preocupação crescente forçou um grupo de empresas a fazer um novo alerta ao governo federal quanto à necessidade de levar metas ambiciosas para a próxima Conferência sobre o Clima (COP26), marcada para Glasgow, na Escócia, em novembro. Com a aproximação da nova cúpula das nações e o senso global de urgência sobre o tema, o mínimo a se esperar é que a delegação brasileira leve ao evento objetivos arrojados e seja convincente quanto à forma e à intenção de atingi-los.
O documento Empresários pelo Clima reuniu um grupo de 107 companhias e 10 entidades setoriais que também reivindicam que o Brasil assuma um papel de protagonismo nas negociações e assuma as suas responsabilidades na tarefa de fazer a transição para uma economia de baixo carbono. "Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil", diz um trecho do documento. Há ainda um contundente aviso de que, mantida a atual postura, há risco de "enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira".
Os efeitos da crise climática não se configuram em uma ameaça futura. Já são palpáveis no país, como mostram os diversos eventos extremos que o Brasil tem experimentado, como a grave seca que, além da crise hídrica, contribuiu para fenômenos que causam espanto, como as colunas de poeira que varreram municípios de São Paulo e de Minas Gerais do fim de semana. A devastação da Amazônica ameaça o regime de chuvas, pondo em perigo o agronegócio brasileiro. Há, ao mesmo tempo, inquietação quanto à possibilidade de produtos e serviços nacionais sofrerem boicote devido à negação governamental da crise e a insistência em tratar a consternação mundial como uma conspiração internacional contra o Brasil.
A nova mobilização empresarial é mais uma prova de que a grande preocupação também tem de ser, em primeiro lugar, brasileira. Preservação e progresso deixaram há muito de ser vistos como excludentes. Pelo contrário, as imensas oportunidades que se descortinam apontam para a conciliação entre conservação do ambiente e desenvolvimento, com incentivo a inovação e novas tecnologias. A grande biodiversidade e as abundantes riquezas naturais, que podem ser exploradas de maneira racional e inclusiva, são ativos estratégicos e diferenciais competitivos do país. Nunca é tarde para despertar.
O documento, articulado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), também será levado para a COP26. Propõe, entre outras medidas, o apoio à criação de um mercado de carbono regulado no país. Urge agir para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5ºC em relação à era pré-industrial. Há, no setor produtivo, diversos esforços para ajudar a atingir esses objetivos. Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento ilegal e a intenção de antecipar a neutralidade climática de 2060 para 2050. Resta, de forma cristalina, dizer como.
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