16 DE SETEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA
Está chegando o verão da grande festa
Por onde andará o Professor Heroíno Machado? Uma vez, quando eu era um jovem repórter do Diário Catarinense, estava entrando no estádio do Criciúma com minha bolsa de couro a tiracolo e o Professor Heroíno Machado me parou para dizer:
- David, tu estás muito branco. Não é saudável. Tu precisas tomar sol urgentemente.
Fiquei considerando a respeito. O Professor Heroíno Machado era preparador físico do Criciúma. Portanto, sabia dessas coisas de boa saúde. O problema é que, naquele tempo, anos 80, os protetores solares não gozavam da popularidade de hoje. Assim, eu, branquicela como sou, ia para a praia e me queimava invariavelmente, a pele ficava vermelha e inchada, e doía ao mais suave afago. Um sofrimento.
Acontece que agora, tantos anos depois, tenho ouvido a mesma frase. As pessoas me encontram e criticam:
- Tu estás muito branco. Muito branco! Não é saudável! Tu precisas tomar um sol.
A Marcinha é uma que me diz isso TODOS OS DIAS.
Mas como é que vou tomar sol, se o tempo está sempre casmurro nessa terra?
Bem que eu queria. Sei da importância do sol para toda a vida, com exceção da do Conde Drácula. Outro dia, estava lendo sobre a relação da Amazônia com o sol. Quase tudo o que se passa na floresta tropical tem a ver com esse relacionamento. As árvores gigantescas da selva são gigantescas, exatamente, para receber os raios do sol e, desta forma, praticar a deliciosa fotossíntese. Então, as árvores amazônicas se elevam a 40 metros de altura e, lá em cima, se abraçam, se trançam, se interpenetram de tal maneira que formam um dossel de folhas, impedindo a passagem da luz.
O solo da Amazônia está sempre à sombra.
A falta de sol impede o surgimento das plantas de menor porte, mas, ainda assim, algumas criaturas extremamente ardilosas encontram formas de sobreviver. É o caso das trepadeiras. Elas usam as árvores altas como hospedeiras, enroscam-se nos seus troncos e sobem até o último andar, onde podem se banhar ao sol. Algumas trepadeiras são ainda mais espertas - elas simplesmente tiram suas raízes do solo, se dependuram nos troncos e nos galhos das árvores e vão lá para cima, a fim de lagartear e se nutrir alegremente. As raízes ficam pendentes no ar, como os cipós do Tarzan.
O sol. O sol!
O brasileiro rege muito a sua vida pelo sol. E agora, como diriam os Beatles, o sol está vindo. Com os dias quentes, sabe o que vai acontecer? Nós vamos relaxar, nós vamos nos liberar. Já aconteceu isso no verão passado, só que neste será diferente. Porque estaremos vacinados. Finalmente, estaremos todos vacinados e a salvo dessa maldita praga do coronavírus. Sairemos ao sol, neste verão. Brindaremos à vida. Será um verão inesquecível, o verão da saúde e da liberdade. O verão da Grande Festa. Até eu me bronzearei. Terei a cor do pecado. Como queria que o Professor Heroíno Machado me visse neste verão que virá. Professor Heroíno Machado, por onde andará?
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