15 DE SETEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA
As diferenças entre Lula e Bolsonaro
Dia desses, recebi um e-mail de um petista furioso. Ele perguntava mais ou menos o seguinte:
"Como é que você pode comparar esquerdistas, petistas e lulistas a bolsonaristas, se entre os esquerdistas há intelectuais, artistas e jornalistas, alguns da própria RBS?"
Respondi que havia ficado exultante com o e-mail dele, porque demonstrava o que sempre digo: os esquerdistas acreditam que são superiores moral e intelectualmente, e foi essa crença que os tornou excludentes, cevando uma direita ressentida, agressiva e igualmente excludente.
Assim, bolsonaristas e lulistas se assemelham nas práticas e na forma de pensar a política. Acabam se igualando. Mas é claro que Bolsonaro e Lula não são iguais.
Sei que agora estou pisando em campo minado. Há muita paixão envolvendo Lula e Bolsonaro, e quando a paixão é grande, a racionalidade é pequena. Mas, temerário que sou, vou seguir em frente mesmo assim.
O ódio a Lula é menos a Lula e mais ao que ele representa, como acontecia com Getúlio Vargas. Lula, bem como foi Getúlio, é o chefe de um grupo político que só chegou ao poder graças ao seu carisma e à sua habilidade conciliatória. No terreno fertilizado por eles desenvolveram-se lideranças que adquiriram boa importância, mas não conseguiram alcançar sua dimensão. A exceção talvez seja Brizola, que tinha luz própria.
Tanto Lula quanto Getúlio fizeram alianças amplas com vários estratos da sociedade, inclusive com as elites, e se desgastaram por seu apego ao poder.
Uma vez, ouvi Brizola falar sobre isso. Ele disse mais ou menos assim: "Se o trabalhismo vencer a eleição, nós avançaremos um quilômetro. Depois, outro grupo vence a eleição e nós recuamos 400 metros. Tudo bem, porque aqueles 600 metros que restaram agora estão consolidados".
Achei uma boa imagem para defender a alternância democrática no poder. Essa alternância não é interessante apenas para quem ganha, também é para quem perde, que se renova, que faz autocrítica, que aprende sobre si mesmo e sobre a sociedade.
É óbvio que nenhum político vai entrar numa disputa para perder. Ele quer ganhar, mas, se perder, tem de compreender que é do jogo da democracia. O grande erro é tentar obter a vitória a qualquer custo, algo que é uma forte tentação de quem exerce o poder.
Bolsonaro nunca teve a habilidade de Lula ou de Getúlio. Ele não construiu um movimento. Ao contrário: ele é produto de um movimento. Bolsonaro se consagrou por se apresentar de uma forma inédita: grosseiro, mal-educado e francamente desagradável, ele pessoalmente é intragável, mas dá a impressão de ser o antissistema. Por isso se elegeu. Porque, nas aparências, era "contra tudo isso que está aí". Na verdade, Bolsonaro é tão intrassistema quanto Lula ou Getúlio. A embalagem é que é diferente. Ao fim e ao cabo, todos querem o mesmo: a eternidade no poder. Que é o que acaba derrubando-os. E derrubando, com eles, o país.
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