18 DE SETEMBRO DE 2021
NEGÓCIOS
O mergulho das grandes do RS no mundo das startups
Busca por inovação leva indústrias gaúchas tradicionais a formarem áreas estratégicas para captar oportunidades e soluções
A procura por inovação no mundo dos negócios não é uma novidade. Mas o ingresso de empresas gigantes e tradicionais do Rio Grande do Sul em ecossistemas setoriais tem sido um fator determinante para acelerar parcerias estratégicas, aquisições e o fomento de startups para o desenvolvimento de novos produtos e processos digitais.
A transformação em curso é visível nos números de M&As (fusões e aquisições, na sigla em inglês), medidos pela Consultoria Distrito, em parceria com a Associação Brasileira de Startups (ABS). No Rio Grande do Sul, foram 14 operações, entre janeiro de 2020 e julho de 2021. Juntas, elas somam US$ 108,7 milhões.
Do total, US$ 91,5 milhões foram consolidados apenas no primeiro semestre deste ano. Na comparação com 2018, por exemplo, quando foram fechados US$ 29,9 milhões em M&As, o volume envolvido saltou 206%.
Este é só um dos indicadores capazes de mensurar a velocidade das mudanças. Além dos negócios propriamente ditos, há um processo contínuo de busca por soluções fora do ambiente das empresas tradicionais. Conforme explica o secretário estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís Lamb, isso toma forma mais acentuada no Estado a partir de 2019, com iniciativas como o Pacto Alegre.
- Grandes empresas buscam esse posicionamento, porque notaram que não se trata mais de uma questão de diferencial competitivo, e sim vital para a sobrevivência do negócio - comenta.
Descentralização
O movimento está ligado ao conceito de inovação aberta (OI, na sigla em inglês). Ou seja, a descentralização do modelo de negócios como alternativa para construir ou perceber que, na grande maioria das vezes, a solução de inovação que vem de fora faz muito mais sentido do que algo que poderia levar anos e demandar polpudos investimentos para ser gerado internamente.
O presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS), Wagner Bergozza, explica que a inovação aberta se alinha ao desejo de inovar das grandes empresas. Neste contexto, a pandemia serviu de catalisador, forçou a digitalização, e o que era remoto virou obrigatório. Segundo ele, as grandes corporações se aproximaram ainda mais dos ecossistemas de startups.
Giovanna Fiorini, gerente de Inovação Aberta na rede de empreendedores Endeavor, avalia que diante de um cenário de incertezas e muita complexidade, como o atual, as marcas mais tradicionais foram obrigadas a rediscutirem suas próprias estruturas físicas.
- Não importa o tamanho da empresa, ninguém pode prever e controlar o futuro - resume.
E os números não mentem. Na Endeavor, até 2019, eram 24 parceiras na área de OI. Agora, são 45, aumento de 87,5% em menos de dois anos. A Renner é uma das adeptas no Estado e, entre as demais empresas, estão Arezzo, C&A, MAG Seguros, Suzano, CSN, Dexco e Votorantim.
Para se ter uma ideia do cenário, no país, segundo dados da consultoria Distrito, no primeiro semestre de 2021, foram 412 transações entre grandes empresas e startups, que somam US$ 5,6 bilhões. Significa que, em apenas seis meses, o valor negociado é 60% superior aos US$ 3,5 bilhões registrados no ano passado.
Até 2017, este tipo de operação oscilava entre US$ 200 milhões e US$ 600 milhões. A partir de 2018, quando o patamar de US$ 1 bilhão é atingido, a curva passa a ser exponencial.
Conexão
Não é coincidência que nos últimos três anos, no Rio Grande do Sul, tenham surgido dois hubs (centros de conexão), financiados pela iniciativa privada. Um deles é o Hélice, em Caxias do Sul, que reúne algumas das principais indústrias do polo metalmecânico.
Outro, o Instituto Caldeira, fica na zona norte de Porto Alegre, no antigo Shopping DC Navegantes, e foi fundado por 40 gigantes da economia gaúcha, em 2019. Até o final de 2021, comenta o diretor- executivo, Pedro Freitas Valério, serão mais de 90 corporações plugadas. Um terço dos espaços pertence às fundadoras, e o restante é de startups e empresas de tecnologia vinculadas à nova economia.
Criado há três meses, o modelo de associados não residentes chegará a 2022 com 150 participantes. Significa que a área construída de 22 mil metros quadrados é apenas a ponta de um iceberg formado por uma base de empreendedores que respiram inovação.
- É muito difícil, para não dizer impossível, hoje em dia, fazer inovação 100% sozinho. Deixou de ser um capricho e se tornou questão de sobrevivência dentro deste novo contexto tecnológico. As empresas, independentemente do porte, entenderam a importância de atuar de forma colaborativa em busca de soluções - diz Valério.
A explicação para tamanha procura passa pelo aumento da dificuldade de identificar soluções de competitividade para negócios já estabelecidos, com o olhar voltado apenas da "porta para dentro".
RAFAEL VIGNA
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