
30 de Setembro de 2025
CARPINEJAR
Coliseu
Por mais que os índices de segurança pública no Estado tenham melhorado, há dois crimes de natureza refratária que continuam a crescer: os feminicídios e as chacinas.
O que aconteceu no Centro Histórico de Porto Alegre na frente de uma casa noturna, na madrugada de ontem, não foi uma cena de briga de bar, mas uma violência premeditada, planejada, com o intuito de matar o maior número possível de pessoas que saíam desprevenidas da festa do fim de semana. O ataque deixou seis frequentadores feridos, dois com gravidade, por volta das 4h40min.
O autor da rajada de disparos se assemelhava a um terrorista: encapuzado, partiu de um veículo Fiesta na Rua Marechal Floriano, no trecho entre a Rua Riachuelo e a Avenida Salgado Filho, não dando chance para ninguém fugir ou se proteger. De acordo com as apurações até o momento, não havia um alvo específico.
Sua investida foi aleatória, com cerca de 20 tiros contra as vítimas, causando perplexidade e indignação, numa loteria macabra que poderia atingir qualquer um - tanto aqueles que se despediam da boemia quanto aqueles que despertavam para trabalhar cedo e se encaminhavam ao transporte público.
Não me lembro de uma afluência tão intensa de tentativas de execução em massa no Rio Grande do Sul. A cada três meses, somos assaltados por um episódio de matança generalizada.
Na Serra, no início de abril, uma professora de inglês foi esfaqueada por um trio de alunos dentro da sala do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental João de Zorzi, em Caxias.
No norte do Estado, no começo de julho, um menino de nove anos foi assassinado com 11 facadas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Nascimento Giacomazzi, em Estação. O agressor, de 16 anos, também lesionou duas meninas, ambas de oito anos, e uma professora de 34.
Escolas e locais públicos têm servido de palco para ceifar inocentes.
Talvez seja a hora de pensar culturalmente em como inibir essa audiência da carnificina, essa realidade que virou game, esse modus operandi de buscar fama e holofotes pela crueldade, sem nenhum apego ou compaixão pelas famílias enlutadas.
Os casos ultrapassam o caráter de uma represália do bullying, de uma vingança motivada por traumas da infância. Apresentam uma falta de empatia à dor, uma desumanidade gratuita e arbitrária com show de sangue, no adoecimento perverso de disputar quem elimina mais em menos tempo.
É o endeusamento de psicopatas em comunidades fechadas, com a proliferação a rodo de sósias dos extermínios estudantis dos Estados Unidos, e a respectiva imitação dos figurinos de atiradores de Columbine e Suzano (camisetas, calças, luvas e botas pretas).
Existe uma grife desses homicídios que nem percebemos, caracterizada por preditores estéticos. Adotam-se roupas e símbolos de antecedentes criminais de repercussão, com as vestimentas conhecidas como pele ou skin, numa predominância de tons monocromáticos.
O laboratório da maldade se articula em segredo em fóruns privados com linguagem cifrada, criptografia e aplicação de algoritmos e câmaras de eco.
São nativos digitais que não se importam com a lei. Não temem as cadeias. Cumprem seus objetivos de alcance midiático pela escalada do medo e pânico.
Vem ocorrendo um coliseu virtual. Só que, em vez dos gladiadores, é a plateia que está na arena sendo engolida por leões famintos.










