30 DE DEZEMBRO DE 2023
+ ECONOMIA
As muitas surpresas de 2023 que marcaram a economia
2023 foi o ano em que os economistas erraram quase tudo. Mas as surpresas foram muito além de equívocos e, infelizmente, nem todas positivas. No Rio Grande do Sul, a violência das tempestades e de seus efeitos foi inesperada até para quem acompanha com atenção as consequências das mudanças climáticas. A coluna lista episódios mais inesperados, mas algum importante vai faltar, já que foram tantos.
A maior de todas
O desempenho do PIB surpreendeu em todos os trimestres. E a estimativa para 2023, que havia começado com 0,78%, saltou para 2,92%. No ano em que o juro real (descontada a inflação) esteve no topo histórico, havia expectativa de fraca atividade econômica. Como sempre lembra o Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic está em "nível contracionista", ou seja, deveria forçar a desaceleração. Ocorreu o oposto, porque a agropecuária tem taxas subsidiadas e financiamento público.
Ministro resiliente
Quando ficou claro que Fernando Haddad seria ministro da Fazenda, o mercado fez muxoxo. Com um discurso diferente da chamada "ala política" do governo, ganhou respeito e confiança. O economista Roberto Luis Troster, que se define como liberal, repetiu o que a coluna ouviu de um operador de mercado: o atual ministro é melhor do que seu antecessor, Paulo Guedes. Também se soube que Haddad chegou a pensar que não emplacaria 2024 na cadeira. A foto acima ajuda a entender.
Dragão anestesiado
O último IPCA-15 do ano veio acima das expectativas. Mas ainda com a perspectiva de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não precise escrever a carta aberta em que explica porque a meta estourou, como fez em 2021 e 2022. Há suspense, porque fechou em 4,72% - uma "folga" de 0,03 ponto percentual. Se o IPCA cheio, que será conhecido só em 2024, passar do teto de 4,75%, vai ter carta.
As trocas na Petrobras
Não houve apenas troca de gestão, também mudança na política de preços e de distribuição de dividendos, ambas recebidas com certa boa vontade no mercado. As ações da companhia acumularam alta de 62,48% em 2023. Isso, mesmo com ruídos gerados pela flexibilização dos critérios de governança, que gerou suspeitas de retomada da interferência política.
Brasil na Opep
Houve outros convites, mas o governo Lula aceitou aderir à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). E foi às vésperas da COP28, o que deu ao país o "antiprêmio" Fóssil do Dia na cúpula do clima em decorrência da antifaçanha. A formalização deve ocorrer em janeiro de 2024, segundo o governo como "observador", situação dos países não submetidos à obediência das cotas de produção impostas pelo cartel dominados pelos árabes.
Mistério do emprego
No último dia útil de 2023, saiu o dado que quase superou o PIB em surpresa: o desemprego caiu para 7,5% em novembro.Redução de desemprego e queda de inflação não costumam ocorrer ao mesmo tempo. Os mais intelectualmente honestos admitem: "Ninguém esperava isso, ninguém sabe explicar", disse à coluna o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida.
Reforma tributária
Foram quase 40 anos de espera, mas uma parte foi aprovada. O resultado da mudança nos impostos sobre o consumo não é o ideal, mas projeta economia de R$ 28 bilhões. E o presidente tem ao menos meia reforma no currículo. Ainda deve a segunda metade, prevista para 2024.
Recordes na bolsa
A bolsa de valores no Brasil teve alta acumulada de 22,28%, a maior desde 2019. Ajudaram a baixa do juro (que começou em 13,75% e terminou em 11,75%), a reforma tributária, a melhora de avaliação sobre o ministro da Economia e, sobretudo, a perspectiva de outro ciclo de baixa, nos EUA.
Violência climática
Apesar dos reiterados alertas dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), terríveis consequências vieram antes do esperado. No Rio Grande do Sul, tempestades foram fatais. Como disse em entrevista à coluna o australiano John Nairn, consultor sênior da Organização Meteorológica Mundial (OMM), se as mudanças se aceleram, é preciso apressar as respostas.
Petróleo na costa do RS
A jornalista que assina esta coluna antecipou informações sobre interesse crescente na exploração da Bacia de Pelotas e, ainda assim, surpreendeu-se. É que se imaginava um número inédito de blocos arrematados (mas não tão grande) e empresas interessadas (mas não tão grandes). É um tanto espantoso que isso ocorra justo quando o planeta está comprometido com a transição energética. Mas tudo indica que, sim, desta vez haverá exploração "séria", para a qual é preciso adotar os devidos cuidados ambientais.
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