08 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
OS JUSTICEIROS DE COPACABANA
Não há retrato mais explícito do descalabro da segurança urbana no país do que esses vídeos e fotos divulgados nas redes sociais pelos autodenominados Justiceiros de Copacabana. Com a maior desfaçatez e como se fossem heróis, delinquentes travestidos de defensores da sociedade exibem cenas de agressão e covardia, mãos ensanguentadas e ameaças de violência contra criminosos que agem no Rio de Janeiro.
De acordo com as autoridades locais, trata-se de um grupo de moradores do bairro mais famoso do Brasil que, armados com tacos de beisebol e socos-ingleses, decidiram sair pelas ruas à caça de suspeitos de roubos e furtos naquela área da cidade. O propósito confesso da nova milícia é fazer justiça com as próprias mãos - para intimidar marginais e compensar a inação das forças policiais.
A opção pela barbárie, ainda que conte com a simpatia de parcela expressiva da sociedade brasileira, compreensivelmente revoltada com a criminalidade irrefreável, atesta o fracasso das políticas públicas de proteção aos cidadãos nos grandes centros populacionais do país. Copacabana é uma das vitrines mais visíveis do Brasil, assim como as áreas movimentadas de São Paulo e Salvador, onde os furtos e roubos se tornaram parte do cotidiano dos habitantes.
As estatísticas e a realidade comprovam que existe uma verdadeira epidemia de assaltos praticados por marginais, principalmente em busca da mercadoria mais cobiçada pelos criminosos atualmente: os celulares, que carregam aplicativos de bancos, informações pessoais dos usuários e ainda são facilmente comercializados até para o Exterior.
Esses instrumentos cada vez mais sofisticados se tornaram o objeto de desejo dos oportunistas, tanto pelo seu valor real quanto pelas possibilidades que oferecem - e mais ainda pela abundância. O Brasil, como revelou recentemente uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas, já tem mais de dois dispositivos digitais portáteis por habitante, cerca de 460 milhões de smartphones, notebooks e tablets.
Sabe qualquer brasileiro que não é seguro nem sensato andar com tais equipamentos à mostra pelas ruas e praças das maiores cidades. Mas é ainda mais irracional culpar as vítimas por eventuais crimes contra elas cometidos e pela ineficácia do sistema de segurança. Logicamente, ninguém espera que os governantes e as autoridades disponham de efetivos policiais suficientes para proteger individualmente cada cidadão, mas o mínimo que se pode desejar é que a polícia reprima e a Justiça condene com o máximo de eficiência possível.
Além disso, torna-se cada vez mais urgente a adoção de políticas sociais e inclusivas que efetivamente reduzam a população de excluídos com potencial para aderir à criminalidade, especialmente de jovens sem perspectiva, que não trabalham, não estudam e, por isso, se tornam alvos fáceis de recrutamento pelo tráfico de drogas e outras organizações criminosas. Decididamente, isso não é tarefa para justiceiros e cidadãos revoltados, que acabam praticando crimes tão graves quanto os que pretendem combater - como se viu recentemente no espancamento em Copacabana de um vendedor de balas confundido com ladrão.
A verdadeira justiça é a civilidade, não a barbárie.
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