sexta-feira, 15 de dezembro de 2023


15 DE DEZEMBRO DE 2023
CELSO LOUREIRO CHAVES

Visita ao Memorial da Ospa

Visitei o Memorial da Ospa à procura do maestro Pablo Komlós, meu professor de regência na universidade e com quem tive conversas intermináveis sobre Wagner e Penderecki. Com ele tive poucas discordâncias, que sempre ocorriam se eu o tivesse desagradado em alguma crítica de jornal. Então ele me recebia em aula com uma frase dita sem nenhuma pressa, mas capaz de gelar a alma: "Tengo una pelea contigo...".

Encontrei Komlós no Memorial da Ospa? Sem dúvida: não naquela estátua infeliz que não faz justiça a quem ele era na realidade. Aí não há novidade nenhuma - a estátua de Eleazar de Carvalho na entrada da Sala São Paulo também não reflete quem ele foi. Mas ultrapassemos a estátua (e os figurinos com um quê de fantasmagórico que nos recebem) e entremos na substância.

Há muita substância no Memorial da Ospa. Olhando à volta, até se pode perguntar: mas é só isso? Não, não é! À medida que vão se abrindo as gavetas, que vão surgindo documentos, que as fotos nas paredes e as linhas de tempo começam a conversar, aí a visita começa a fazer sentido e sentimos que valeu a pena. Valeu a pena ir até lá, valeu a pena o esforço de pessoas como Dorvalina Gomes que, através de décadas, foram separando "para o futuro" tudo o que se vê agora.

Ainda há a parte interativa da exposição, que merece um olhar bem cuidadoso. São mais de 70 anos de história que, de repente, podem ser misturados como se deseja, juntando, como diria Caetano Veloso, "o antes, o agora e o depois". Sob pena de cumprimentar uns e esquecer outros, muito se deve à curadoria de Paulo Amaral e à concepção de interatividade de José Francisco Alves e Sérgio Mello.

Minha visita ao Memorial da Ospa foi exaustiva, física e mentalmente. Muito por causa da viagem de memória que fui obrigado a fazer (com gosto!) diante de cada documento, cada recorte de jornal, cada fotografia relembrada. Komlós na regência. As óperas no Salão de Atos da UFRGS (os intervalos eram longuíssimos). O Teatro da Ospa na Avenida Independência. Os solistas, os regentes, os presidentes.

Houve um tempo em que participei do dia a dia da orquestra, mas isso foi coisa lá do século passado. Apesar das dificuldades típicas das instituições brasileiras, constantemente sob ataque, a orquestra prosseguiu. Sua história está contada agora nesse Memorial da Ospa aberto a todos e que vale muito a visita. Mesmo que essa visita possa se revelar exaustiva: em emoção, em descoberta, em revivência.

CELSO LOUREIRO CHAVES

Nenhum comentário: