Pau para toda obra
Não dá para achar mais que não vai encontrar algo em sua cidade. É negar a existência da globalização. Antes, quem viajava para o Exterior recebia uma lista de encomendas de amigos e familiares para trazer perfumes ou eletrônicos incomuns do free shop. Era a Black Friday da década de 1980. Você não podia nem divulgar sua estada fora, sob o risco de virar muambeiro.
Os mesmos produtos importados estão disponíveis hoje em qualquer shopping. Variam os preços, mas temos fácil acesso a eles. A popularização das compras virtuais aboliu as distâncias e as exceções.
Aprende-se a controlar a compulsão com os erros e gafes. Quem nunca saiu de férias para longe e retornou cheio de sacolas com artesanato local, sobrecarregado de lembranças típicas que julgava exóticas e fora da curva, acreditando ter embolsado peças únicas que jamais conseguiria obter onde mora?
Meu irmão Rodrigo comprou um pé de pau-brasil na Bahia, no descanso familiar de janeiro. Ficou alucinado, não quis esperar, arrebatou na hora, sonhando em plantar no seu sítio aquela árvore tão emblemática, que originara o nome do nosso país, mudara o destino da nossa colônia, substituíra a Terra de Santa Cruz.
Fantasiou até o cantinho certo para a muda no seu terreno: exigiria larga área livre para que pudesse crescer seus 10 a 15 metros de altura. Idealizou seu tronco reto, sua casca cinza-escura, seus frutos no formato de vagens, cobertos por afiados espinhos para se precaver de pássaros predatórios.
Iria ostentar o achado para as visitas, fornecer detalhes da raridade. Só que a volta de avião foi um horror. Não tinha como despachar. Não tinha como colocar na mala. Ele suportou um voo de sete horas segurando o pau-brasil, sem se mexer direito na poltrona, anestesiado, recebendo cócegas daquela planta em seu rosto, vegetando junto, temendo câimbras pela imobilidade demorada.
Se a inércia incomodava, descobriu o quanto a movimentação agravava o desconforto ao correr de uma conexão a outra, forçado a equilibrar os pertences do casal, os brinquedos do filho pequeno (baldes, boia), o carrinho de bebê e a árvore balançando e berrando no seu colo. Quando pousou em Porto Alegre, ele se sentiu realizado, com a missão cumprida. Jurou que havia superado o pior.
Na manhã seguinte, apareceu na floricultura mais próxima para comprar adubo. E o que viu na entrada da loja? Promoção de pau-brasil! Por pouco, não levou pau da esposa por tanto transtorno com as bagagens.
Há 10 anos, Rodrigo vem estranhando o espécime no quintal. Parece mais um bonsai.
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