Despedida de um colorado a Suárez
Eu tinha que estar no aeroporto Salgado Filho na sexta-feira, não porque eu teria voo, não porque partiria para algum lugar. Precisava ter certeza de que Luis Suárez iria embora. Precisava ter o sossego de que ele embarcaria e não mudaria de ideia, de que não cederia às manifestações de gratidão e permanência da torcida tricolor. Precisava ter a paz de espírito de que ele acenaria para sempre e não daria meia-volta, de que não sucumbiria aos gritos de "Luisito, fica!".
Precisava ter uma garantia visual, uma prova para meus olhos, de que ele passaria definitivamente pela catraca para nunca mais, de que desapareceria pelo portão 8, para jamais voltar a Porto Alegre, rumando para as férias no Uruguai com a família, e depois para a companhia do amigo Messi no Inter Miami.
Se ele ficasse, Grêmio seria tetracampeão da Libertadores. Se ele ficasse, não sei o que poderia acontecer na Arena. Ele comprovou ser um dos maiores centroavantes do mundo em atividade. Quando ele chegou por R$ 2 milhões ao mês, jurei que era um negócio perigoso, acreditava que ele estaria lento, que repetiria as atuações discretas do Nacional, que se machucaria com facilidade.
Mas me enganei redondamente. Ele está longe de se aposentar. Ainda saiu barato. Mais de 50% das camisetas vendidas tinham seu nove e seu nome nas costas. Foram arrecadados R$ 10 milhões em produtos com sua marca. O Tricolor contou com o salto anual de 50 mil sócios e chegou a 113 mil inscritos em seu programa.
Seu sucesso não se restringiu aos negócios fora dos gramados, ele primou pela constância e regularidade na escalação. O atacante de 36 anos fardou 54 vezes em 2023, um recorde em sua carreira. Tem determinação de guri, espírito de piá endiabrado: ajuda na marcação, busca a bola e finaliza com uma elegância e uma precisão destinadas a raros.
É capaz de transformar um pênalti em obra-prima com cavadinha, de acertar o ângulo de primeira, de chapar a bola para onde quiser. Infelizmente, ele prejudicou seriamente a minha secação. Anulou meus poderes sobrenaturais, minhas superstições transcendentes.
Como torcida rival, encontrei a perplexa impotência. Ou conheci integralmente aquela admiração dentro da inveja. Só lamentava: "não tem o que fazer, ele é mesmo craque, diferenciado, único, extraordinário".
Suárez no Grêmio manteve o nível de suas atuações na Europa. Se lá ganhou a Chuteira de Ouro da Premier League (2013/2014) e da La Liga (2015/2016), aqui levantou a Bola de Ouro do Brasileirão, eleito o melhor jogador da competição.
Se no Barcelona Suárez contribuiu com 88 gols e 43 assistências em seus primeiros cem jogos, aqui, mesmo com a metade dessas partidas, foi responsável por 29 gols e 17 assistências.
Carregou o Grêmio. Turbinou o Grêmio. Revolucionou o Grêmio. Enlouqueceu o Grêmio. Levou um clube recém-egresso da Série B para o topo, para os títulos da Recopa e do Gauchão, para a semifinal da Copa do Brasil, para o vice-campeonato do Brasileiro. Se não fosse o pênalti roubado no embate com o Corinthians, daria um título que o Tricolor ambiciona há 27 anos.
Agora existe a versão Pistolero do Grêmio, assim como já existia a do Liverpool, a do Atlético de Madrid, a do Barcelona. Já é uma das suas médias mais altas, uma de suas temporadas mais inesquecíveis.
Luisito é gênio. Da mesma forma, posso estender parte do reconhecimento ao presidente do Grêmio, Alberto Guerra, artífice da sua contratação. Já vai tarde. Graças a Deus.
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