Professora premiada inspira mais mulheres
- Desde pequena tive o sonho de dar aula em universidade. Venho de uma família na qual minha mãe não teve a possibilidade de estudar, por ser mulher, enquanto meus tios homens tiveram incentivo dos pais e tornaram-se professores universitários.
Foi com isso em mente que a professora Jade de Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), recebeu nesta semana o prêmio Para Mulheres na Ciência 2023. Aos 36 anos, a cientista foi uma das vencedoras na categoria Ciências da Vida, seu primeiro reconhecimento a nível nacional.
Ela também dá aulas na graduação, nos cursos de Farmácia e de Agronomia. Mãe do Matteo, de dois anos, ela comenta sobre os desafios de conciliar a pesquisa com a maternidade.
- Depois que tive meu filho ficou muito mais evidente essa desigualdade, a dificuldade de conciliar a carreira com a família, com o trabalho de cuidado. Por mais que eu não esteja conseguindo fazer tudo que desejo, percebi que as coisas vão dar certo. O prêmio foi a realização de um sonho - conta.
Estudo
Jade de Oliveira investiga os efeitos que dietas desequilibradas na infância podem causar a longo prazo, analisando os impactos no cérebro. A proposta é estudar as relações entre a alimentação, a microbiota intestinal e o sistema nervoso. Segundo a professora, há indícios de que uma dieta rica em gorduras e açúcares está associada não somente a doenças cardiovasculares, mas também ao desenvolvimento de transtornos de humor, desencadeando condições como a depressão, por exemplo.
Cientista é um espelho para muitas outras pesquisadoras
A relação de Jade com a pesquisa começou ainda na graduação, quando fez iniciação científica durante o curso de Farmácia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dali em diante, ela não parou até tornar-se professora. Em 10 anos ela concluiu o mestrado, doutorado em Bioquímica e pós- doutorado em Neurociência pela UFSC (2016). Durante esse período, sua principal referência foi uma mulher: a professora Andreza Fabro de Bem, que serviu como inspiração e a orientou ao longo da trajetória.
Hoje, Jade está entre os 15 mil bolsistas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ela faz parte do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFRGS, que é nota 7, conceito máximo atribuído pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
E ela tem contribuído para que outras jovens possam ocupar esses espaços de destaque. Uma de suas orientandas, Sâmili da Silva, 24 anos, de Santa Maria, veio para Porto Alegre fazer o mestrado na UFRGS porque se interessou pela linha de pesquisa criada pela cientista e docente.
- Vemos a professora dando conta do filho e conseguindo nos orientar, tirar dúvidas, ajudar. Ela é um exemplo não só de cientista, mas de mulher. É difícil uma mulher conseguir progredir tanto na carreira com essa idade, ainda mais com filhos, e ela mostrou que isso é possível - diz Sâmili, que pesquisa sobre doenças metabólicas e o desenvolvimento de neuropatologias.
Já Mariana Viana, 27 anos, começou o mestrado neste ano e diz que escolheu a Jade como orientadora justamente por se espelhar nela.
- Me senti inspirada. E essa linha de pesquisa é uma questão importante, porque no final das contas, a gente é o que a gente come. Investigar os mecanismos por trás disso é fundamental - afirma a aluna, graduada em Biomedicina pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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