terça-feira, 12 de dezembro de 2023


12 DE DEZEMBRO DE 2023
NILSON SOUZA

O país do futuro do pretérito

Sete em cada 10 alunos brasileiros de 15 anos não sabem resolver problemas matemáticos elementares. Nesta disciplina, estamos no 65º lugar entre 81 países investigados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em leitura, ficamos na 52ª posição. E em ciências, garantimos a 62ª posição. Quando tomei conhecimento dos últimos resultados do Pisa, que é a avaliação internacional feita a cada três anos para aferir o conhecimento de estudantes de vários países, fiquei pensando naquela célebre frase do economista e político Roberto Campos:

- O Brasil não perde a oportunidade de perder uma oportunidade.

Todo mundo sabe que a saída está na educação. Até os políticos, que invariavelmente a elegem como bandeira de suas campanhas eleitorais, mas raramente conseguem priorizá-la na prática de suas administrações. Por que, então, dá sempre errado?

Com formulação ligeiramente diferente, essa tem sido a pergunta mais ouvida pelo jornalista e escritor Laurentino Gomes, consagrado autor de verdadeiras obras-primas da história desta pátria amada. Outro dia ele contou numa entrevista:

- Todo mundo me pergunta em que momento o Brasil começou a dar errado?

Como resposta, ele diz que não dá para definir um momento crucial: as oportunidades vêm sendo perdidas em vários períodos da vida nacional. Mas o principal motivo é facilmente identificável: a desatenção com a educação. Laurentino lembra que, na época da Independência do nosso país, a América espanhola já tinha 22 universidades. E o Brasil só foi ter a sua primeira em 1912, quase cem anos depois de se tornar uma nação livre do colonizador europeu. Livre em termos, pois sua população era formada por 90% de analfabetos.

E mesmo hoje, com acesso universal à escola, continuamos sendo uma nação de iletrados ou semianalfabetos. Nossos estudantes não sabem fazer contas, leem mal, entendem pouco de ciências e dão vexame nos testes internacionais.

Por suas riquezas naturais, pela criatividade de seu povo e por vários outros motivos, o Brasil já foi apontado mil vezes como país do futuro. Lembram-se daquela fatídica capa da revista The Economist? O Brasil decolaria, mas até hoje não conseguiu sair do chão. Só consegue ser o país do futuro do pretérito - aquele tempo verbal que se refere a coisas que poderiam ter acontecido no passado e não se concretizaram.

NÍLSON SOUZA

Nenhum comentário: