sábado, 9 de dezembro de 2023


09 DE DEZEMBRO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

NUNCA FUI UMA MENINA BOAZINHA

Nunca fui uma menina boazinha. Sempre fui uma pessoa do bem. E existe uma bela diferença.

Ser do bem é querer o bem das pessoas, dos animais, da natureza, do planeta. Querer bem a si mesmo e aos outros. E lutar por isso a vida inteira, pra que exista mais amor e menos sofrimento no mundo. Ter empatia, se colocar no lugar do outro. Ter um código de valores, de princípios, ter ética. Ter palavra, ser confiável. Querer um mundo mais justo e mais feliz.

Agora, ser boazinha é outra coisa. Ser boazinha é fazer aquilo que a sociedade quer que a gente faça, não dar muita opinião, não se manifestar, não batalhar. Aceitar e obedecer regras que você não criou e nem concorda.

Se eu fosse boazinha, não teria feito absolutamente nada do que eu fiz. Teria sido submissa e eu nunca fui. Obediente, definitivamente não sou. Teria aceito cada imposição sem questionar... você acha? Teria ficado calada, me acreditando sem o direito de ter uma voz e de dar minha opinião. Como assim?

Tem diferença entre ser boa e boba, certo?

Quem fez essas regras que a menina tem que ser boazinha e seguir todas as imposições, se comportar dentro de padrões, se deixar rotular, diminuir, encolher? Quem disse? Quem foi que falou que eu não posso tentar ser tudo o que eu quiser?

Inventaram de nos ameaçar, castigar, colocar o medo na nossa vida, pra gente ficar boazinha. Criaram a insegurança, minaram a autoestima, disseram vocês não são capazes. Vocês não sabem, não conseguem, não podem. Adivinha de quem era o medo?

Olha só o medo que eles têm de nós, a ponto de querer nos dominar. Medo da nossa força, da nossa inteligência, da nossa abrangência. Durante séculos, não permitiram que a gente se desenvolvesse, expandisse, estudasse.

Medo. Só cercearam a nossa liberdade por medo da altura do nosso voo. Impediram o nosso pensamento por medo que a gente descobrisse tudo. Que a gente soubesse demais. Só abafaram a nossa voz porque têm medo do nosso alcance.

Nossa capacidade de aprendizado é infinita. Nossa intuição é infalível. Nossa gestão, fabulosa. Com o pouco que temos, fazemos milagres. Super-heroínas em qualquer circunstância, superando qualquer crise. Sobreviventes, seguramos todas.

A gente consegue fazer muita coisa ao mesmo tempo, aguenta muito mais dor, cuida de todo mundo, tem um senso de humor infinito e essa contínua capacidade de rir de nós mesmas. Mesmo quando proibiram nossos sentimentos, fomos obrigadas a aprender a arte da dissimulação. Sabemos nos adaptar, nos transformar, temos uma capacidade de sentir que é maior que a vida.

Não, definitivamente não vale a pena ser uma menina boazinha. E abrir mão desse bem tão precioso que é a nossa vida. Viemos pra essa existência pra gente se conhecer, saber quem somos e o que queremos. E ninguém vai te dizer quem você é e o que você quer. Ninguém manda em você, a não ser que você deixe. Eu não quero ser essa menina boazinha, fácil de manipular. Eu quero escrever minha história, protagonizar meu filme. Ser eu mesma em todas as cenas. E com certeza eu quero ser uma pessoa do bem.

BRUNA LOMBARDI

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