Com dólar alto, língua portuguesa
desaparece das lojas de Nova York
CHICO
FELITTI - EM NOVA YORK
02/05/2015 18h46
A
empresária Sandra Maria Lee, 39, entrou na butique da Louis Vuitton da Quinta
Avenida falando português há algumas semanas:
"A
Paula, por favor. Paula. No, no, Paula, please." Os funcionários tentaram
explicar que Paula, uma das duas vendedoras que falavam português na loja, não
trabalhava ali fazia alguns meses.
Em
meio à valorização do dólar, lojas de Nova York dispensam funcionários lusófonos
que tinham contratado para atender os brasileiros, terceiro grupo de
estrangeiros que mais visita a cidade.
Chico Felitti/Folhapress
O
americano Samuel Mondesir, 25, vendedor da loja de equipamentos fotográficos
B&H
A
loja da Prada no SoHo apareceu em reportagem da Bloomberg por empregar três
vendedores fluentes em português em 2010. Agora, pede a grupos de brasileiros
que "avisem com antecedência de alguns dias", para conseguirem
comissionar funcionários que entendem a língua.
A
Macy's diz em seu site ter um lusófono. A Folha visitou o prédio da Quinta
Avenida da loja de departamento em três datas no mês passado e ele não estava
disponível.
Tentando
comprar em português, a reportagem foi atendida em espanhol nas três visitas. Macy's,
Louis Vuitton e Prada não responderam a pedidos de entrevista feitos durante
duas semanas.
Ana
Souza, 27, trabalhou em três lojas de departamento durante os cinco anos em que
morou em Nova York.
Está
de volta a Vitória, sua cidade natal, faz dois meses. "Fiquei um ano
procurando emprego. Meu visto de trabalho expirou e tive de voltar."
Lojas
de roupas jovens tampouco veem a língua como um investimento válido. Na
Abercrombie, falam-se seis línguas, além da oficial do país: italiano,
espanhol, alemão, francês, chinês e alemão. Procurada, a
Abercrombie
não se pronunciou.
"Parece
que um certo interesse por funcionários chineses está acontecendo ao mesmo
tempo em que há queda na procura por vendedores brasileiros, portugueses ou de
países da África que dominem o português", diz a analista de recursos
humanos Tina Schuster, que recruta para marcas de luxo.
Alguns
negócios visitados afirmaram não terem enxugado a equipe que fala português,
como a loja de equipamentos fotográficos e tecnologia B&H, em Hell's
Kitchen.
Ali,
há quatro vendedores capacitados com a língua. Um deles é o americano Samuel
Mondesir, 25, que aprender frases como "mas é o iPhone grandão ou o
pequeno que você procura?" nos oito meses de emprego.
Questionado
sobre como tinha aprendido português (e adotado o Santos e o Vasco como times
do coração) em menos de um ano, ele espalmou as duas mãos e apontou ao redor:
"Você já olhou em volta? Só tem brasileiro!".
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