04
de maio de 2015 | N° 18152
MOISÉS
MENDES
Pitbulls
Discute-se
há dias quem tem mais culpa no episódio da repressão policial aos professores
em Curitiba, quando um cachorro da PM abocanhou a perna do repórter Luiz Carlos
de Jesus, da Rede Bandeirantes. Um vídeo no YouTube mostra que o cachorro ficou
seis segundos com a perna do jornalista entre os dentes.
A
questão que se apresenta nas redes sociais é esta: o soldado atiçou o bicho ou
qualquer pitbull é um cachorro sem noção? Os defensores do policial, de um
lado, e os admirados de pitbulls, de outro, tentam argumentar sobre quem foi o
omisso ou o descontrolado.
Nunca
pensei que uma polícia chegasse ao ponto de usar pitbulls em espaços públicos. A
polícia tucana do Paraná me surpreendeu com a guarda de um cachorro imprevisível
e, dizem, sem a menor condição de se submeter a comandos e a entender o que
possa ser certo ou errado.
O
cinegrafista foi atacado quando cobria, na quarta-feira, protestos de
professores estaduais contra um projeto do governo de Beto Richa que muda o
sistema previdenciário do funcionalismo. Vi as cenas da batalha. Os policiais
agrediram os professores com a gana dos pitbulls.
Há na
internet fotos de gente que nunca mais se livrará das cicatrizes de tiros de
balas de borracha no rosto. É uma marca real e simbólica de uma época de
humilhação dos professores. Deve, um dia, ser tema de aula.
Já os
pitbulls têm defensores apaixonados. São cães dissimulados como os golpistas
que tentam nos enganar com aparentes docilidades. Não há como sentir pena de um
cachorro covarde. Nenhum cão é tão traiçoeiro. O pitbull ataca velhos e os próprios
donos, de preferência se estiverem fisicamente fragilizados.
Mas
pitbull gosta mesmo de atacar crianças. Não há notícia do ato heroico de um
bicho desses, como os que volta e meia nos fazem admirar ainda mais os vira-latas.
Mas quem sou eu para julgar os pitbulls, até porque seus donos têm o costume de
processar quem ofende seus animaizinhos.
Para
contribuir com o debate, digo apenas que há uma certa coerência entre a polícia
de um governo quebrado, inseguro e violento e a utilização de um cachorro
agressivo para caçar professores e repórteres.
Ninguém
cria um pitbull impunemente. E tem gente dedicada a engordar pitbulls diversos,
só para atacar jornalistas, professores e assemelhados.
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