segunda-feira, 4 de maio de 2015


04 de maio de 2015 | N° 18152
DAVID COIMBRA

O amor bruto pela ruiva

OHulk apaixonado pela Scarlett Johansson é algo que me faz acreditar no futuro da humanidade. Estou falando no novo filme dos Avengers, que fui ver no cinema com o meu filho. Um ótimo filme de aventura, os americanos aplaudiram no final.

Aliás, os americanos demonstram fidelíssimo amor pelo cinema. Só nesse teatro de Boston em que fomos, há 20 grandes salas de exibição, e todas estavam lotadas. Eu e o Bernardo chegamos, comemos nossos cachorros-quentes regulamentares e fomos para a sessão. Quando a Scarlett apareceu pela primeira vez, dentro daquele macacão preto e justo, e debaixo dos cabelos ruivos, o Bernardo ciciou:

– Como ela é bonita...Concordei, sorrindo, sem tirar os olhos da telona:

– É... – Parece a mamãe...– É...

Não admira que o Hulk tenha se enternecido.

Scarlett, que no filme faz a Viúva Negra, chama o Hulk de Big Guy. Achei carinhoso. Quando ela toca com sua mãozinha branca na mãozona verde dele, ele amansa e se transforma de novo em Bruce Banner. Existe poesia aí. Mulher nova, bonita e carinhosa faz um homem gemer sem sentir dor, como diria o Zé Ramalho.


Como os americanos conquistaram o mundo
Não foi pelas armas que os americanos conquistaram o mundo. Foi pelo cinema.

O interesse externo dos americanos não é a indústria, não são conquistas territoriais, não é a ideologia; é o comércio. Para o bem do comércio, eles se valem de todo o resto como argumentação. Eis a natureza do tão debatido imperialismo norte-americano.

Esse imperialismo nasceu no século 19, pouco antes da Guerra Civil. Os americanos queriam fazer comércio com todo mundo, de todo o mundo. Havia quase três séculos que o Japão estava fechado para o Exterior. Os americanos consideravam aquilo pouco civilizado e nada lucrativo.

Mandaram para lá uma frota comandada pelo comodoro Perry, que apontou os canhões para a cidade de Tóquio e pediu, amigavelmente, que os portos fossem abertos aos navios americanos. Os japoneses ponderaram, concluíram que os estrangeiros estavam sendo convincentes e cederam.

Paradoxalmente, aquela submissão acabou sendo boa para o povo japonês, que vivia numa espécie de feudalismo oriental, oprimido pelos xoguns. Em 50 anos, o Japão estava unificado e forte como nunca. Em menos de cem, atacou os próprios Estados Unidos.

Mas essa é outra história. O que dizia era que, no século 19 e no começo do 20, os americanos usavam de um imperialismo brutal. O primeiro Roosevelt dizia:

– Fale macio, mas sempre com um grande porrete na mão.


E era assim que ele fazia, de fato. Até que, no século 20, os americanos compreenderam o poder do cinema. Uma história bem contada pode ser mais forte do que uma esquadra armada de canhões. As calças jeans, os tênis e a camiseta, os hambúrgueres e os cachorros-quentes, a língua inglesa, o dólar e os arranha-céus, os carros, as autoestradas e o uísque, o jeito como você fala e anda, tudo tem a ver com o poder insinuante do cinema. Se a Scarlett Johansson fizer parte da trama, mais insinuante ainda. Aí, bem, aí nem o Hulk é capaz de resistir.

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