domingo, 1 de janeiro de 2012


Danuza Leão

O tal do poder

Deve ser bom ser o chefão de alguma coisa: de uma empresa, de um país, da máfia; eles nunca esperam

A gente lê os jornais, vê as noticias e se pergunta: por que será que as pessoas querem tanto o poder?

Existe quem pense que, com ele, vai conseguir mudar o mundo. Não que seja pouco -afinal, mudar o mundo é um grande projeto. Mas talvez exista alguma coisa a mais nesse desejo. Qual é, afinal, a grande graça do poder?

Quanto mais poderoso você é, menos consegue mandar em sua própria vida. Um ministro, cuja foto sai todos os dias nos jornais, não pode nem ir a um restaurante sem ser escoltado por seguranças. E isso é bom?

Poder e dinheiro são parecidos, mas o poder é melhor. Um milionário é poderoso? Em termos; ele pode ter tudo o que quer, mas seu poder é relativo. Aliás, o supremo poder é ser dono da sua própria vida, e esse poucos têm. Dá para ir à praia segunda-feira de manhã e fazer do dia o que bem quiser? Não, a não ser que você seja seu próprio patrão. E quando se é seu próprio patrão, aí mesmo é que não dá.

Um dia você se apaixona e é correspondido; e por acaso um homem apaixonado é dono de sua vida? Tem o direito de decidir o filme que gostaria de ver ou o restaurante onde prefere jantar? Quando mais felizes no amor e mais sucesso na profissão, mais prisioneiros somos.

Mas o poder tem grandes vantagens, sim, e uma delas é que os poderosos não esperam por nada nem por ninguém. Parece pouca coisa? Pois não é.

Pense em quantos telefonemas você dá por dia e o tempo que espera para que eles -os poderosos- atendam. E a fila do elevador, que você tem que enfrentar galhardamente, em nome da civilidade, dos bons costumes e da democracia?

Seja sincero: se você fosse o dono do mundo, não teria um elevador só para você, que não parasse em nenhum andar, para não ter que ouvir gente que fala no celular, ri, assobia e até cantarola num espaço tão pequeno? Ah, como deve ser bom ser o chefão de alguma coisa: de uma empresa, de um país, da máfia. Esses nunca esperam.

Quando eles saem o carro já chegou (o motorista foi avisado pelo celular), esperando com a porta aberta, e dependendo do tipo de poder, têm direito até a batedores abrindo o caminho no trânsito.

Por que um milionário compra um jatinho por milhões, se as primeiras classes são tão confortáveis? Porque sendo dono do seu próprio avião, é ele quem escolhe a hora em que quer decolar. Aliás, outra vantagem do poder: ter alguém que se lembra de carregar o celular, que sonho.

Quando um poderoso de verdade chega a qualquer lugar, alguém chega antes, para abrir as portas - em todos os sentidos. Parece pouco? Pois é por coisas aparentemente tão simples que existem até os golpes de Estado.

Mas a vida dos poderosos não é um mar de rosas, pois existem os jornalistas querendo saber se eles estão bem ou mal-humorados (e por que razão), e, se não descobrem, especulam e não dão sossego, dia e noite, querendo saber dos detalhes -e quanto mais íntimos esses detalhes, melhor. Mas eles gostam, e fazem qualquer papel para se agarrar ao tal do poder, seja ele de síndico ou de ministro.

Viver sem precisar esperar por nada nem por ninguém, não perder tempo, para ter mais tempo, todo o tempo do mundo, esse é o sonho supremo; e mais tempo para quê? Para trabalhar mais, ganhar mais dinheiro e ter mais poder.

Simples, não?

PS - Se seu ano não foi bom, coragem, o próximo vai ser melhor; e se foi bom, vai ser melhor ainda. Feliz 2012.

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