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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
09 de janeiro de 2012 | N° 16942
PAULO SANT’ANA
Uma consulta muito louca
Fiz um teste esses dias quando fui a São Paulo: procurei um médico que não me conhece, fui ver como me sairia numa consulta paga, escondendo alguns detalhes meus.
O médico me perguntou de início se eu fumava. Disse a ele que nunca fumei.
Perguntou se eu bebia, disse-lhe que não bebia. Se usava drogas, maconha, cocaína etc. Respondi que não fumava e não usava drogas.
Então ele me perguntou se eu caminhava e fazia exercício físico.
Eu continuei mentindo: fazia duas horas de exercícios físicos por dia.
O médico, atarantado com meu desempenho existencial, resolveu partir para outras investigações. Afinal, ele não compreendia como uma pessoa de hábitos tão saudáveis tenha procurado atendimento médico.
O médico resolveu abordar o que ele chamou de histórico da minha família.
Quis saber se eu tinha alguns parentes que tiveram certas doenças, indagou das causas das mortes de meus parentes nos últimos e em remotos anos.
Respondi que tive dois tios que morreram baleados num assalto a banco que ambos intentaram.
O médico entrou em pânico com minhas respostas.
Foi então que o médico me perguntou, talvez em última instância, como se comportava meu aparelho digestivo.
Respondi-lhe que gosto muito de mocotó, como mocotó quase todos os dias.
“E como se comporta o seu estômago diante do mocotó”, perguntou-me o médico.
“Diante do mocotó?”, redargui eu. Foi então que disse ao médico que quando vou ao Rei do Mocotó, na Rua Bordini, e me trazem um tigelão de mocotó fumegante e o põem na mesa, diante de mim, antes da primeira colherada, o meu estômago ronca e eu ouço nitidamente ele falar: “Ih, aí vem bronca!”.
O médico me examinou atentamente e chegou à conclusão de que eu era um homem forte e saudável. E continuava não entendendo por que tinha ido consultá-lo.
Dei a ele meus resultados de exames e ele me disse que eu não tinha nada de anormal.
Mas quis me botar numa esteira. Perguntei a ele: “O senhor diz que eu não tenho nada e quer me botar na esteira?”.
Ele estava muito atrapalhado e senti que se muniu na obrigação de fazer alguma coisa, a esteira foi a única coisa que lhe ocorreu.
Eu disse a ele que talvez não fosse necessária a esteira, ando duas horas por dia pela cidade, mais ou menos, há muitos anos.
Ele perguntou: “Correndo, caminhando?”.
E eu lhe disse: “Nada disso, ando de táxi, umas 12 corridas por dia”.
O médico não entendia mais nada, disse que eu poderia ir embora e se recusou a cobrar seus honorários.
Ele disse que eu tinha de caminhar, caminhar. Eu lhe respondi que, se caminhar fosse bom para o coração e o corpo, no ano passado não teriam morrido 264 carteiros dos Correios e Telégrafos, de infarto, segundo as estatísticas. Os carteiros, entregando correspondência, caminham em média, cada um deles, 25 quilômetros.
E infartam.
Saí do consultório daquele médico com o resultado que eu almejava: era o primeiro médico em minha vida que não conseguira me vencer.
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