Segredo é se manter ativo na terceira idade
Afazeres auxiliam a preservar a motivação após a aposentadoria
Planeta Terra, universo, física, matemática, tabela periódica. A cada dia, o expediente de Angela Maria Vega Coelho, 70 anos, começa em um setor e com um tema diferente. Ela apresenta dinossauros, brinca com espelhos, acomoda-se no chão para contar histórias para crianças.
Há sete meses, a psicóloga aposentada circula pelos três andares do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) naquele que garante ser o emprego dos sonhos. Entre mais de mil candidatos, Angela foi uma das selecionadas para as quatro vagas de atendente de museu do programa Genial Idade, destinado a pessoas a partir de 65 anos. Cumpre quatro horas diárias, de terça-feira a sábado, com salário, carteira assinada e benefícios.
- Tenho o maior orgulho. Me formei aqui - conta, mostrando o crachá que leva no peito.
Durante a carreira profissional na psicologia, Angela manteve consultório e depois trabalhou em uma empresa. Estava aposentada havia nove anos quando soube da oportunidade no museu. Pediu ajuda para a filha para ajeitar o currículo e se submeteu a uma seleção, que incluiu um depoimento em vídeo.
- Ficava mais em casa, mas não é o meu perfil ficar parada. Aqui tem duas coisas de que gosto: pessoas e conhecimento - diz Angela, feliz por ter sido bem aceita pelos colegas, na casa dos 20 anos. - Não tive dificuldades com o grupo, eles me aceitaram. Pedi que não me chamem de dona Angela - acrescenta, rindo.
Diversificar a faixa etária dos colaboradores estava entre os objetivos da administração.
- Entendemos que, para a natureza da atividade, a diversidade geracional seria válida. Nosso programa não visa à caridade. Acreditamos, e isso está se provando, que seria positivo para a equipe e para o visitante. São pessoas com mais paciência e mais conhecimento - justifica o diretor da instituição, Marcus Klein.
Manter-se ativo na terceira idade é uma iniciativa que beneficia fortemente a esfera cognitiva do indivíduo. Priscila Abiko, médica geriatra do Hospital Edmundo Vasconcelos, de São Paulo (SP), destaca que ter interação social e compromissos a cumprir diminui a ocorrência de demência e também a progressão da demência já instalada.
- O fato de se sentir útil, ter um papel na sociedade, reduz depressão e ansiedade, que são causas de demência e perda de memória - complementa Priscila.
Planos
Simone Scremin, psicóloga do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, também ressalta a importância dessa sensação de utilidade para evitar ou aplacar o sofrimento emocional. Manter os papéis desempenhados na família e em uma atividade laboral, mesmo que não seja com o mesmo desempenho e a dedicação de antes, é fundamental para que o idoso não se sinta um peso para quem o cerca.
- Quando temos objetivos, planos, metas a alcançar, a tendência é a gente estar melhor psiquicamente. Às vezes, a cabeça está superbem, mas o corpo não alcança mais, então tem que adaptar, ressignificar as coisas- afirma Simone.
Segundo a psicóloga, o apoio dos familiares é fundamental.
- Talvez não seja todos os dias, mas que tenha uma atividade duas ou três vezes por semana: exercício, clube de melhor idade, chamar amigos, jogar carta. (...) Se for um quadro mais deprimido, talvez precise de avaliação e medicação. A família tem que estar junto, acompanhar - acrescenta Simone.
Praticar atividade física regular também é fundamental, pontua a médica Priscila Abiko. Exercícios reduzem o risco de eventos cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), e o de quedas, além de proteger os ossos. Tarefas diárias como limpeza da casa e passeio com o cachorro são positivas, mas o ideal é realizar atividades programadas, com duração mínima de 150 minutos semanais, orienta a geriatra.
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