Só para quem honra a certidão de nascimento
Pode-se adiar tudo, menos a eleição, para que os gaúchos tenham em mente o que aconteceu e o que deveria ter sido evitado. Pode-se adiar Imposto de Renda, contas de luz e água, condomínio, retorno às aulas, menos a eleição municipal. Acredito que o pleito é decisivo no calor dos acontecimentos, para darmos valor a quem nos governa.
É bom cortar qualquer articulação ou boato pela raiz, ainda que nenhum pedido de adiamento tenha sido formalizado pela Justiça Eleitoral, ainda que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, tenha descartado por antecedência a possibilidade de mudança.
Após o maior desastre ambiental da história gaúcha, aumentou ainda mais a responsabilidade para escolher prefeitos e vereadores.
Deixar para o próximo ano arrefeceria os ânimos, diminuiria o impacto da enchente, concederia o eufemismo do esquecimento para autoridades. Quem perdeu tudo precisa votar mais do que nunca. Quem ficou sem nada precisa votar mais do que nunca.
Meio milhão de desabrigados têm a exata noção das diferenças entre promessa e verdade. Não têm tempo a perder para reaver as suas vidas, ou, infelizmente, o que sobrou delas.
Foram afetados pela enchente 464 dos 497 municípios do Estado, ou seja, todo um Estado com feridas abertas, com a memória recente da calamidade, revoltado, injuriado, humilhado, que não aceitará realidades provisórias e lentidão dos serviços essenciais.
Não dá para abrir espaço para propagandas enganosas, para oportunistas de plantão, para todos que se mantiveram omissos ou indiferentes na nossa crise humanitária.
As máscaras caíram, os rostos emagreceram de espanto. Hoje é mais fácil perceber aqueles que mentem, aqueles que não honram a sua certidão de nascimento (cara expressão da minha amiga Candice Soldatelli), aqueles que se valem de fatalidades climáticas para limpar o nome e terceirizar os seus encargos.
Prefeitos mais fortes virão. Entenderão a situação de penúria e desalento, a queda da arrecadação e o aumento do entorno da miséria. Não terão como culpar as contas do antecessor para justificar a falta de investimento, serão exigidos em criatividade e austeridade.
Não há a mínima condição de gastar em campanhas milionárias ou de cobrir as ruas destroçadas com fotografias posadas. Aliás, o polpudo fundo partidário merecia ser direcionado para as vítimas das cheias, pelo menos no primeiro ano de refundação das cidades. Não existe destino mais lógico e urgente.
O Congresso poderia, desde já, tomar a saudável medida como prioridade, para não aprofundar as dívidas da União. A vocação pública é que pesará nas urnas, com apresentação de programas sociais relevantes, plano de prevenção ambiental, habitação sustentável e de gestão de finanças e de obras.
Votar não é um gesto secundário, dispensável, mas um direito, uma necessidade. Que venha logo 6 de outubro. Estou ansioso por essa data.
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