segunda-feira, 20 de maio de 2024


INFORME ESPECIAL

30 mil litros

Uma ação solidária liderada por três paulistas - Lisandra Saturno, Amanda Tsuruda e Simone Macedo - resultou na entrega de 30 mil litros de água ao Rio Grande do Sul. Comovidas diante das enchentes, elas juntaram as doações em São Paulo e pediram o apoio da Associação dos Juízes do RS (Ajuris) para viabilizar a entrega. Deu certo. A água chegou e já foi levada a abrigos e instituições de apoio às vítimas da tragédia.

Nos abrigos

Médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, já realizaram mais de 500 atendimentos a vítimas da enchente na Capital e em Canoas. A instituição também abriu o heliponto às missões humanitárias. Até a semana passada, o local registrou 54 operações com aeronaves.

Mapeamento

O Instituto Social Pertence, sediado em Porto Alegre, está mapeando as carências de pessoas com deficiência (PCDs) que perderam suas casas na inundação. Muitas vezes, essa parcela da população acaba ficando à margem. Além de trabalhar por espaços adequados em abrigos temporários, a instituição sem fins lucrativos busca doações para auxiliar os mais necessitados. Para ajudar, o pix é 27.323.239/0001-59.

Rios que sangram

Há uma semana, escrevi aqui sobre o simbolismo de um mural afro cercado de água no centro de Porto Alegre (foto abaixo). Com 65 metros de altura, a obra mostra uma mulher negra segurando um ramo de justicia gendarussa. Erva ligada a Ogum e Iansã (orixás guerreiros), o arbusto é conhecido nas religiões de matriz africana pelo grande poder. Para quem crê, a planta vence tudo.

Descobri, dias depois, que nem mesmo a mãe de santo retratada no desenho resistiu à força das águas.

Líder comunitária, voz ativa do Instituto Camélia (que leva alimentos orgânicos à população das periferias), Beatriz Gonçalves Pereira, a Bia da Ilha (no detalhe), já viu muitas enchentes na vida. Ela mora na Ilha da Pintada, banhada pelo Guaíba, onde desenvolve trabalho social e ajuda muita gente.

Em 62 anos, Bia jamais havia testemunhado tamanha inundação. Como milhares de gaúchos, perdeu tudo. É uma refugiada do clima.

Perguntei a Bia o que os orixás dizem da tragédia coletiva que vivemos. Não sou religiosa, mas respeito quem tem fé e espero, do fundo do coração, que a fé nos ajude.

- Os orixás dizem que vamos passar por isso, mas não vai parar por aí. As águas só querem passar. Os rios estão sangrando, estão doentes. Acreditamos ser mais poderosos do que a mãe natureza, mas não somos. As águas falam, a terra fala. A mãe natureza está cobrando a conta - diz a filha de Iemanjá.

No último alagamento, em novembro de 2023, a água chegou até a metade das paredes da casa de Bia. Dessa vez, cobriu tudo. Levou tudo. Só não levou a esperança.

- Não devemos reclamar do rio. Temos de ouvir o que ele diz. O progresso é bom, mas bom para quem? Precisamos mudar. É a única saída - conclui a mãe de santo.

Mudar significa rever conceitos e a forma como nos relacionamos com o meio ambiente. Significa reflorestar e preservar o que ainda há de verde, reduzir o concreto (já ouviu falar em despavimentação?), tornar nossas cidades mais resilientes e reduzir as emissões de CO2 (gás do efeito estufa), entre tantos outros desafios.

Mudar significa deixar a omissão de lado, porque não temos plano B e, muito menos, "planeta B".

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