segunda-feira, 13 de maio de 2024


13 DE MAIO DE 2024
CARPINEJAR

Pacto nacional

Se um Estado inteiro dos Estados Unidos sucumbisse, deixaria de ser um problema do Estado afetado, passaria a ser do país. É uma questão de proporcionalidade. Não tem como o próprio Estado vitimado e colapsado se ajudar.

O Brasil não pode reconhecer a invasão das águas e o deslizamento de terra como uma situação eventual de emergência, com status de socorro episódico, até os rios baixarem.

Trata-se de uma tragédia humanitária sem precedentes, afetando 446 municípios dos 497 do Rio Grande do Sul.

E a chuva continua, e a devastação prossegue, novas cidades vêm sendo destruídas, como Lajeado, Pelotas e Rio Grande. Sequer a Capital está a salvo de um novo transbordamento do Guaíba, com previsão de que atinja 5m50cm, meio metro abaixo do limite do muro da Mauá, de acordo com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Um ponto importante é que Porto Alegre tem urgência para consertar o seu sistema de defesa - e merece a participação total e irrestrita do Exército, para contar com o máximo de casas de bombas em funcionamento.

Mais de meio milhão de pessoas estão desabrigadas até o momento. Um êxodo irrefreável. Onde alojá-las? Como, no meio do caos?

Acampamentos e alojamentos têm uma natureza meramente preventiva e provisória. Resgates existem quando a evacuação fracassa. A impressão é que ninguém mais manda naquilo que está acontecendo. A sociedade civil está tentando se virar na base da caridade e da solidariedade.

Onze milhões de habitantes vêm experimentando duas semanas de terror, e dependem de um posicionamento firme e jamais adotado pelo governo em sua história republicana.

Entenda-se, de uma vez por todas, que uma unidade federativa do país se vê seriamente ameaçada de extinção, com suas bases econômica e social comprometidas. É prioridade nacional. Toda a política deveria estar voltada exclusivamente para proteger a Região Sul da catástrofe, em que a miséria e o desemprego desencadearão um cenário de extrema violência.

As ações do Palácio do Planalto precisam ser transferidas imediatamente para o Palácio Piratini. Nossas demandas vão muito além de ter ministros em missões ou um presidente vistoriando os escombros de cima, num helicóptero.

Como a maior parte dos municípios gaúchos ainda se encontra submersa, não conseguimos identificar os danos causados e determinar quais serão os investimentos para manter a rede básica de serviços e de transportes. Estima-se uma quantia de R$ 70 bilhões a R$ 90 bilhões para a refundação das cidades (desta vez, cidades sustentáveis, com retaguarda contra cheias).

Não devo sequer apelar para o bom senso e alegar que o Brasil depende de nosso setor agropecuário. O RS é responsável por 70% da produção de arroz no país. Encomendar de outros lugares para preencher a lacuna não é solução, mas um completo descaso, um gesto de absoluta insensibilidade. Como se fôssemos descartáveis. Por que não nos ampara com a logística para escoarmos a lavoura já colhida (83% da safra)?

A medida se estenderá também para a produção de soja, trigo e milho? Para a carne suína, de que o Estado é o terceiro maior produtor do país, com 18% a 20% do mercado nacional? E também para o frango, setor do qual o Estado detém 11%?

Convenhamos, isso me parece salvar o Brasil do Rio Grande do Sul, não o Rio Grande do Sul para o Brasil.

CARPINEJAR

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