ESPERANÇAR É PRECISO
Como leitor diletante de narrativas históricas, sempre me impressionou a evacuação dos milhares de soldados britânicos, no litoral francês, sob a iminência do ataque das tropas alemãs no desenrolar da Segunda Guerra. O envolvimento da população civil, operando embarcações para o resgate, foi comovente e impressionante.
Cogitava então sobre como nós, brasileiros, em contexto correlato, agiríamos. Seria o movimento dessa magnitude algo característico dos britânicos? Afinal, eram pessoas se colocando em risco - de bombardeio ou naufrágio - para salvar conterrâneos.
Pois é num dos momentos mais dramáticos da história do Rio Grande do Sul que o mundo testemunha a formação de uma imensa rede de solidariedade, produtora de infindáveis heróis anônimos. Não é ficção. Diuturnamente, não poucos, expondo as próprias vidas, agem em prol dos atingidos por uma catástrofe.
O Guaíba, cenário de magníficos entardeceres, se tornou uma avenida líquida por onde transitam jet skis e as mais variadas embarcações para salvamentos. Em solo não é diferente. Uma intensa rede de voluntários administra doações e alojamentos para recepcionar os desabrigados.
Há registros lamentáveis, como furtos e vigarices de toda ordem, de quem se aproveita da debilidade da situação. Mas são a exceção. As ações estão predominantemente dirigidas à minimização da tragédia.
Conflitos bélicos não se comparam a calamidades naturais, embora tenha passado do momento de se considerar seriamente a responsabilidade do ser humano no desencadeamento dos desastres ambientais. De todo modo, se há algum otimismo a extrair dessas tristes experiências, é o sentido de pertencimento a uma comunidade. Tomara que essa energia, manifesta em momentos de flagelo, possa ser também animada em situações ordinárias.
Não foi preciso um Churchill e o seu "jamais nos renderemos". Sabemos, podemos e devemos permanecer mobilizados. Esperançar é preciso. Só assim, e pranteando as vidas perdidas, reconstruiremos o Estado.
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