Trinta dias de um pesadelo infinito para os gaúchos
A enchente de 2024 começou em dias diferentes para cada região do Rio Grande do Sul, mas foi no dia 29 de abril que começou a se delinear a catástrofe. Foi nesse dia que Sinimbu ficou isolada e devastada, um pedaço da RS-287 caiu e deixou Candelária sem acesso a outras cidades. São 30 dias de um pesadelo sem fim para quem perdeu parentes, amigos, casa, carro, móveis e animais de estimação.
No dia seguinte, seria a vez de o Vale do Taquari, que ainda não tinha se recuperado da enchente de setembro de 2023, reviver o pesadelo, agora com o rio mais violento. De novo, Muçum, Roca Sales, Encantado e Arroio do Meio viram a água fazer o mesmo trajeto de setembro e ir além. Em Lajeado, a ponte da BR-386 ficou encoberta e o rio seguiu seu curso arrombando as margens e causando mais mortes e mais estragos nos municípios da sua rota. Foi nesse dia que a comunidade de Passo de Estrela (foto), em Cruzeiro do Sul, conheceu o terror. O pequeno município erguido às margens do Taquari contabiliza 15 mortos e 12 desaparecidos, além de centenas de desalojadas.
Quando as águas dos rios Taquari, Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí se juntaram no Guaíba já era 3 de maio. Naquela manhã, com uma das comportas do Muro da Mauá avariada e bombas que não funcionavam, a água invadiu o Centro, reprisando cenas de 1941. Ainda hoje há milhares de famílias fora de casa na Região Metropolitana e incerteza sobre o futuro.
Um mês depois, as promessas de ajuda emergencial dos governos começaram a ser cumpridas, mas o grande desafio ainda está por vir: o da reconstrução. Serão necessárias milhares de casas para abrigar quem perdeu a moradia. Estradas seguem interrompidas porque pontes foram levadas pela enchente. Empresas estão paradas porque foram alagadas e ainda não receberam os prometidos financiamentos com juro baixo. O vaivém de ministros é incessante e a promessa é que não faltará dinheiro. Que assim seja.
Com a volta dos voluntários à rotina, o governo gaúcho decidiu contratar os Correios para cuidar da logística das doações. Os Correios, que já vinham trabalhando gratuitamente no transporte de donativos, agora serão pagos para receber os caminhões, separar o material e fazer a distribuição para as defesas civis dos municípios afetados.
Um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil, a cidade de Bento Gonçalves lançou um movimento batizado de Viagem Solidária. A ideia é estimular os turistas a viajarem sem culpa neste período de crise no Rio Grande do Sul.
O cancelamento de viagens agendadas e a desistência de pessoas que se programavam para visitar Bento e a Serra Gaúcha são ameaça a diversos empreendimentos e, especialmente, a milhares de empregos na região.
Foi para reverter essa situação e mostrar às pessoas que os locais turísticos e estabelecimentos como hotéis e restaurantes não foram atingidos pelas águas e seguem abertos que o prefeito Diogo Siqueira criou o movimento. A intenção é mostrar que há opções para chegar aos pontos turísticos da Serra, como as vinícolas de Bento.
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