A RECOMPOSIÇÃO DAS ESTRADAS
Ontem, quase um mês após o início da chuva causadora da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, a malha rodoviária gaúcha tinha 36 pontos com bloqueios totais ou parciais em estradas federais. Nas vias estaduais, eram 66 locais sem passagem ou com o trânsito restrito.
Apenas na BR-116, uma das mais importantes a cortar o território gaúcho, eram 11 trechos, sendo nove completamente obstruídos. Na RS-287, principal ligação entre a Grande Porto Alegre e a região central do Estado, quatro partes restavam totalmente interrompidas, como mostrou reportagem de Anderson Aires publicada na superedição de fim de semana de Zero Hora. Um estudo com participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estima que ao menos 2,7 mil quilômetros de estradas foram afetados pela enchente.
São números que ilustram a dificuldade encontrada até aqui para recompor vias e pontes e retomar a circulação, a despeito do trabalho diuturno das autarquias do Estado e do governo federal, concessionárias, Forças Armadas e voluntários, engajados no esforço de reconstrução. O estrago causado pela força das águas foi inédito. A grande dependência do Rio Grande do Sul das rodovias, responsáveis por cerca de 90% da matriz de transporte local, amplia a relevância de buscar meios para acelerar a recuperação das vias danificadas.
Além da circulação de pessoas, a economia gaúcha é fortemente vinculada às rodovias. É pelas estradas que chegam os insumos e são despachados os produtos manufaturados. Se o fluxo é cortado, disseminam-se prejuízos em todos os setores: indústria, agropecuária, serviços e comércio. A maior dificuldade para acessar outras regiões do país é um gargalo sufocante a minar a competitividade do Rio Grande do Sul.
Os bloqueios na RS-287 são um exemplo do quanto a perda de acessos é prejudicial, por cortar a ligação de regiões como a Metropolitana, os vales do Taquari e do Rio Pardo e o centro do Estado, um dos mais importantes eixos econômicos do Rio Grande do Sul e com grande número de municípios afetados. Uma viagem entre Porto Alegre e Santa Maria, por exemplo, tem de ser feita pela BR-290. Leva mais tempo e põe pressão extra em uma rodovia já saturada. Concessionária da RS-287, a Rota de Santa Maria afirma que trabalha para liberar a via totalmente em junho, mas por meio de desvios provisórios.
Órgãos e empresas envolvidos na recuperação das estradas têm à frente o desafio de restabelecer a malha gaúcha com a maior celeridade exequível. É um trabalho complexo também pela grande quantidade de pontos que precisa receber atenção. Mas o processo de normalização da economia gaúcha, com o menor impacto possível nos negócios, nos empregos e na renda, depende dessa agilidade.
Espera-se que, conforme foi prometido por autoridades, o repasse de recursos ocorra sem travas e a burocracia possa ser afastada ao menos momentaneamente, devido à gravidade da situação. Não se deve perder de vista, no entanto, o futuro. A infraestrutura do Rio Grande do Sul, como estradas e pontes, terá de ser repensada, em especial nos pontos mais suscetíveis, para resistir às novas enxurradas e inundações que inapelavelmente virão.
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