sexta-feira, 17 de maio de 2024


Os erros da enchente de Porto Alegre

Quando infelizmente um avião cai, a primeira pergunta é se houve falha mecânica ou humana. Dos escombros, procura-se a caixa com a gravação entre torre, pilotos e tripulação para verificar de onde partiu a principal responsabilidade e se a aeronave sofreu alguma pane mecânica durante os procedimentos de voo.

No caso de uma enchente, não tem como resgatar os últimos momentos, mas, com certeza, além da potência destrutiva de um evento climático sem precedentes, existiu falta de manutenção da contenção das cheias em Porto Alegre.

Está circulando um manifesto de engenheiros e pesquisadores sobre os problemas do sistema de proteção contra a inundação da Capital, que cobre uma faixa de 68 quilômetros.

"Os diques e os muros não vazam! Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção. No ano passado, quando o sistema foi acionado, durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também inundaram a Região Metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias Casas de Bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta (EBABs) estão inundadas."

Acredito que seja pertinente reproduzir o documento, pois não parece em nada uma obra de ficção de especialistas. O que parece ficção científica é a cidade ser invadida pelas águas, apesar dos diques externos e internos, 23 casas de bombas e muro da Mauá com cota de 6m.

"É necessário o fechamento dos vazamentos nas comportas para evitar a entrada (e retorno) das águas do Guaíba, recompor os Condutos Forçados e bombear as águas da inundação de Porto Alegre para o Guaíba através das Casas de Bombas ou alternativamente.

Propomos as seguintes medidas: - Através de mergulhadores, vedar as comportas do muro e Av. Castelo Branco;

- Também com mergulhadores, vedar as comportas e colocar ensecadeiras nas Casas de Bombas com stop logs, solda subaquática e bolsas infláveis de vedação;

- Vedar hermeticamente as tampas violadas dos Condutos Forçados Polônia e Álvaro Chaves;

- Com as Casas de Bombas secas e protegidas por ensecadeiras, reenergizá-las, o que pode ser realizado com redes paralelas de cabos isolados pela Equatorial. Se assim não for possível, utilizar diretamente nas Casas de Bombas geradores movidos a combustível;

- Caso não seja possível operar imediatamente as Casas de Bombas, utilizar bombas volantes de grande vazão para drenar o Centro Histórico e os bairros da região norte da cidade. No caso do bairro Sarandi, onde as águas superaram a cota de 6m e a Casa de Bombas nº 10 está completamente inundada, é certo que serão necessárias bombas volantes;

- Com as comportas vedadas e conseguindo fazer operar as Casas de Bombas, ou com bombas volantes, as águas internas de Porto Alegre poderão ser bombeadas para o Guaíba, sem que retornem.

Assim que as águas baixarem:

- O Dmae necessita imediatamente consertar e, se necessário, realizar eventuais substituições das comportas do Sistema de Proteção contra Inundações;

- O Dmae necessita imediatamente contratar a regularização do funcionamento das Casas de Bombas, incluindo a sua ampliação e aperfeiçoamento, tendo por referência o plano elaborado pelo DEP ainda em 2014, cujos recursos financeiros de R$ 124 milhões a fundo perdido foram perdidos em 2019. Trata-se das Casas de Bombas 12, 13, 14, 15, 16, 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 10;

- Retomar o Plano de Desenvolvimento da Drenagem Urbana, elaborado desde 1998;

- Considerando que a cidade possui mais de 40% de sua área praticamente na mesma cota das águas do Guaíba em tempos normais, tem a necessidade de completar, aperfeiçoar e manter o seu Sistema de Drenagem Urbana, manter e aperfeiçoar permanentemente o seu Sistema de Proteção contra Inundações, é necessário e urgente recriar uma estrutura de primeiro escalão, o DEP ou semelhante."

CARPINEJAR

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