AJUDA POLITIZADA
O governo federal voltou a anunciar mais um pacote de medidas para auxiliar o Rio Grande do Sul a reerguer-se da devastação provocada pela atual tragédia climática, mas o que ficou de concreto na cerimônia de ontem em São Leopoldo, além das promessas feitas pelo presidente Lula e seus ministros, foi a estranha nomeação política para representar a coordenação do governo federal no Estado. Essa coordenação é atribuição natural do governador, que foi eleito para isso e está fazendo o possível para cumprir o encargo desde os primeiros instantes do desastre ambiental.
Como titular da Secretaria de Comunicação, o ministro Paulo Pimenta vinha desempenhando bem o trabalho de encaminhar demandas do governo estadual e das prefeituras gaúchas para a administração federal. Sua nomeação para a pasta extraordinária criada ontem por medida provisória acrescenta um indesejável viés político ao processo de reconstrução. Já é a terceira visita de uma comitiva do governo federal ao Estado e, apesar das promessas, a população flagelada ainda não recebeu benefícios efetivos. A única vantagem para o Estado, até agora, foi a suspensão temporária do pagamento da dívida.
Se saírem da palavra para a ação, serão bem-vindas as iniciativas no sentido de desburocratizar a liberação de recursos federais, pois há absoluta urgência em prestar atendimento digno aos desabrigados e, ao mesmo tempo, dar início à reconstrução. Mas até mesmo as boas intenções ficam prejudicadas quando o componente político sobressai.
Na cerimônia pública que ontem sucedeu a visita aos desabrigados, com muitas fotos de políticos para as redes sociais, os protagonistas do evento fizeram discursos altruístas. Apesar de não ter havido uma coordenação prévia, o ministro Paulo Pimenta assegurou que continuará trabalhando em absoluta sintonia e parceria com o governo do Estado e com as prefeituras. Em complemento, corretamente, o governador Eduardo Leite lembrou que não pode haver divergências políticas e ideológicas quando se trabalha com o mesmo propósito.
E o presidente Lula assegurou que não faltará dinheiro a Estados necessitados, independentemente do viés político e ideológico de seus governantes. Ainda assim, o risco de politização da tragédia aumenta bastante com a duplicidade de liderança no processo de reconstrução se não houver um perfeito alinhamento entre o governador e o novo ministro de Estado da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Os discursos empolgados de alguns políticos podem passar a impressão de que tudo está resolvido, mas qualquer pessoa mais consciente sabe muito bem que a tarefa da reconstrução é longa, demorada e extenuante. Muitos obstáculos ainda precisarão ser removidos para que a normalidade seja restaurada. As águas da desgraça ainda não baixaram. Por isso, as prioridades continuam sendo socorrer as pessoas, abrigá-las dignamente, alimentá-las e garantir-lhes saúde.
Mas elas só terão esses direitos humanos por mais tempo se o Estado restaurar sua infraestrutura e sua economia, para que todos possam ter serviços públicos adequados, emprego e renda. Nesse contexto, resta esperar que todos os agentes públicos envolvidos tenham a compreensão de suas responsabilidades e façam uso dos mecanismos colocados ao seu alcance para que os recursos sejam efetivamente liberados com a urgência necessária.
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