sábado, 11 de maio de 2024

"Justicia gendarussa"

Justicia gendarussa é o nome científico de um arbusto conhecido como quebra-demanda ou quebra-tudo. Nas religiões de matriz africana, o vegetal é usado em banhos, bate-folhas e benzimentos para abrir caminhos e proteger ambientes.

É a erva de Ogum e Iansã, orixás guerreiros. Para quem crê, é uma planta de grande poder. Vence tudo.

E é exatamente esta a folhagem a estampar o mural gigante - de 65 metros de altura por 15 metros de largura - que você vê na imagem ao lado.

Captada pelo fotógrafo Ronaldo Bernardi, de Zero Hora, na última semana, a foto é o retrato de uma Porto Alegre submersa, frágil e paralisada, em plena Avenida Borges de Medeiros.

Ali, junto de uma das artérias urbanas mais conhecidas da Capital, na empena de um prédio público, está a obra pintada em 2021 pela suíça Mona Caron e pelo paulistano Mauro Neri. No desenho de rara delicadeza, custeado por mais de 130 entidades e instituições, uma mulher negra olha para o céu e, com as mãos espalmadas, exalta a planta mística.

Não sou uma pessoa religiosa, ao menos não no sentido formal, mas respeito quem tem fé e acredito que há um bocado de coisas, entre a terra e o firmamento, que não conseguimos explicar de forma racional.

Quando vi a foto ao lado, com toda aquela água e tudo mais que a catástrofe climática trouxe de ruim ao nosso Rio Grande, fixei o olhar no mural e lembrei da história que acabo de contar. Tive a certeza de que nós vamos superar as dificuldades e reconstruir o que foi desfeito. Vamos vencer. Que os orixás nos acompanhem.

P.S.: na mesma Avenida Borges de Medeiros, uma a quadra da obra destacada ao lado, há outro painel simbólico - e alagado -neste momento crítico. É o mural do ambientalista José Lutzenberger. Lutz foi um dos primeiros a alertar para o que estava por vir. Demos ouvidos?

INFORME ESPECIAL 

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