sábado, 18 de maio de 2024



18 DE MAIO DE 2024
DAISY VIVIAN

Animais e a incrível rede dos abrigos

A sociedade pode ter certeza de que simplesmente tudo o que foi doado chegou ao seu destino final. É possível ver mascotes ganhando peso e muitos serão entregues em situações bem melhores àquelas em que foram encontrados na enchente

No início, tudo era escuro e assustador. Animais no meio do nada e molhados até os olhos se descobriram dentro de botes, com gente estranha e vozes desencontradas. Alguns mordiscavam seus salvadores do começo ao fim do resgate, enquanto outros, aliviados e agradecidos, deixavam-se levar no colo de seus protetores.

Em terra firme, o caos não podia ser pior. Mascotes chegavam às dezenas e por todos os lados. Voluntários não se intimidavam com sarnas, mordidas, uivos e miados incessantes e seguiam madrugada adentro fazendo carinho, quando não cobrindo com o próprio corpo aqueles que tremiam de frio. Colocavam cães e gatos dentro de carros, levando-os para suas próprias casas e seus sítios. Mas o Rio Grande do Sul não está dando trégua para amadores, e o passo seguinte foi perguntar a si mesmo "onde foi que eu me meti? ". Organizar a rotina de animais perdidos, famintos e assustados não é para qualquer um.

Às pressas, abrigos começaram a ser erguidos, do jeito que se conseguia. A rede de voluntários nunca foi tão útil e, amparados pelas doações de caixas de transporte, rações, lonas, coleiras e medicamentos, o grande desafio tomou forma. Carregados no colo, puxados por cordas ou dentro de caixas, centenas de animais molhados começaram a chegar.

Os abrigos souberam da existência uns dos outros e uma extensa e ramificada rede de auxílio começou a se organizar.

REALIDADE

As pessoas têm a ilusão de que um local repleto de cães e gatos é um lugar bacana de se estar. Não se enganem. Animais de todos os tipos e de diferentes perfis de repente se veem um ao lado do outro, e os ânimos começam a se alterar. Sendo assim, mordidas e arranhões ocorrem o tempo todo, rotina conhecida por Letícia Burmann, fundadora da ONG Paixão por Quatro Patas, que circulou por diversos abrigos advertindo sobre o perigo dessa combinação. "Todos querem fazer rápido alguma coisa, mas é necessário ter o cuidado de separar machos e fêmeas no cio, mães com filhotes e cães agressivos porque as pessoas realmente podem se machucar", enfatizou a voluntária.

Assim, instalados em praças públicas, em paradas de ônibus e até em estacionamentos de supermercados, os voluntários doaram seu trabalho e, aos tropeços, descobriram-se frente a situações inéditas. Como conviver com gatos fofinhos, cães furiosos, bichanos enlouquecidos e outros tantos adoecidos em um único recinto improvisado? Como se já não tivesse confusão o suficiente, alguns necessitavam de cuidados intensivos, enquanto outros sequer se deixam tocar.

DAISY VIVIAN

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