Solidariedade
Pela primeira vez, usei a palavra caos. Foi durante uma entrevista para uma rádio do Canadá. A apresentadora me pediu para descrever a situação do Rio Grande do Sul. Respondi que a situação é caótica, dezenas de mortos, muitos mais desaparecidos, deslizamentos, aeroporto da Capital submerso e cidades inteiras embaixo d?água. Quase 90% do meu Estado atingido. Pontes e estradas destruídas. Milhares de pessoas tiveram de abandonar suas casas.
Nunca havia usado a palavra porque o caos é o limite. Então, para dar a dimensão da catástrofe, disse à jornalista de Toronto que o que estamos vivendo aqui é o caos. Ela afirmou que todos os canadenses estavam comovidos com o Rio Grande do Sul. Agradeci e respondi que era muito bom que os ouvintes do Canadá tivessem uma ideia do que estamos vivendo aqui. Falei que, quanto mais souberem, melhor.
Aproveitei para reforçar que não acreditassem em notícias mentirosas. Na catástrofe, elas se proliferam como mosquitos da dengue. Ela também quis saber quais eram as medidas que estavam sendo adotadas para minimizar impactos de possíveis novas tragédias. Disse que era um desafio grande para todos nós; inclusive e mais importante, cabe às autoridades nos oferecer melhores condições, ter uma melhor preparação, repensar a localização de mais de 80 mil pessoas, só em Porto Alegre, que moram em área de risco.
Também falei sobre o papel de todos, nos milhares de salvamentos. Mais uma vez, ela agradeceu e ofereceu solidariedade. Fiquei emocionado com as palavras. Diante de uma tragédia desta dimensão, é muito bom saber que pessoas do outro lado do mundo se preocupam conosco. Nunca houve tamanha corrente de solidariedade. Na pior tragédia climática do país, não nos abandonaram. A essas pessoas, seremos eternamente gratos.
Pessoas de todas as partes do Brasil estão vindo ao Rio Grande do Sul para ajudar. Depois que tudo isso passar, terá de haver alguma forma de homenagear essa gente toda. E nossa mensagem será: "Nunca fomos abandonados". Recorro a uma frase do escritor William Shakespeare, do livro Henrique V, para resumir minha gratidão: "We few, we happy few, we band of brothers". Em português: nós poucos, poucos de nós felizes, somos o grupo de irmãos.
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