03 DE NOVEMBRO DE 2023
FEIRA DO LIVRO
O fantástico em destaque na Praça
Evento literário da Capital abre espaços da programação para discutir características e nuances da literatura de fantasia
Horror, fantasia, ficção científica e, é claro, o fantástico. Desses gêneros literários surge o grande campo da literatura fantástica, que tem ganhado força no mercado nacional - com destaque para Porto Alegre, que, até 15 de novembro, recebe a 69ª Feira do Livro, com parte da programação voltada a esses gêneros.
Na Capital, a recepção dessas obras é ótima, garante o escritor, editor e professor Duda Falcão, 48 anos. Ele participará de uma série de eventos com essa temática. Amanhã, às 15h30min, estará no Sarau Itinerante de Literatura de Horror, na Biblioteca Erico Verissimo da Casa de Cultura Mario Quintana. No dia 14, às 14h, no Auditório do Memorial do RS, promoverá uma oficina intitulada Escrevendo Literatura Fantástica: Uma Jornada pela Escrita de Horror, Fantasia e Ficção Científica, na qual falará sobre seu livro Guia de Literatura Fantástica - que autografará na sequência, às 16h, na Praça de Autógrafos Gerdau.
Falcão organiza o congresso literário Odisseia de Literatura Fantástica, que, em sua nona edição, realizada no início de outubro, reuniu em torno de 200 pessoas.
- Porto Alegre é uma das cidades que mais consomem o fantástico. A gente tem apreço por isso - afirma, citando a Semana do Horror, na Casa de Cultura Mario Quintana, como indicativo.
Escritora e designer de narrativas para jogos digitais, Kali de los Santos, 32 anos, também percebe um grande consumo desses produtos. A autora considera Tormenta - universo de fantasia para o qual escreve - uma parte forte disso. Kali acaba de escrever um romance infantojuvenil a ser publicado no próximo ano pela editora Jambô, ampliando o público-alvo para além dos adultos.
- Acho que a gente tem uma cena bem interessante de autores gaúchos de fantasia, de ficção científica e de horror - pontua a escritora, que participará, ao lado de outros autores, de um painel na Feira do Livro no próximo dia 12, às 16h, no Auditório Barbosa Lessa do Espaço Força e Luz, intitulado Tormenta: A Coleção Arton, sobre esse universo literário e de RPG e seus novos títulos.
Apesar do aumento da produção e da procura, no entanto, Falcão ainda sente falta de um certo ímpeto dos leitores de comprar mais obras de autores brasileiros.
- Ainda se compram muitas obras de autores estrangeiros, isso eu acho que está bem em alta. A gente tem um pouco de dificuldade de romper esse padrão de consumo, de trazer mais para os autores nacionais esse tipo de venda - observa o especialista.
Importado
A escritora de Tormenta também percebe um consumo ainda muito atrelado ao Exterior, com booktubers e booktokers trazendo essas indicações. A produção nacional, por vezes, também é muito espelhada na estrangeira. Contudo, ainda que o panorama não tenha se alterado completamente, Kali destaca que a procura por conteúdo nacional está crescendo. Ela atribui esse fenômeno a uma tendência recente de querer se identificar mais com aquilo que é consumido.
- Acho que o pessoal que lê aqui no Brasil pensou: eu posso ler alguém que escreve não necessariamente sobre a minha realidade, mas que vem a partir da minha realidade. Um exemplo: a alta fantasia que eu escrevo, mesmo sendo em um mundo medieval, vai ser especificamente brasileira, porque sou brasileira e vou escrever com o jeito que a gente tem de lidar com as coisas - explica Kali.
O impulso desse tipo de literatura está vinculado ainda a outros fatores, na visão da autora, como as crises mundiais, as guerras e as questões climáticas acontecendo simultaneamente e tornando difícil, por vezes, lidar com a realidade. A arte entra, então, não como uma possibilidade de escape, mas como uma ajuda para processar - ao ler, por exemplo, uma história de ficção científica que trata da crise climática. Além disso, para Falcão, os gêneros fantásticos são muito divulgados em seriados e filmes. Assim, o audiovisual acaba se destacando como outra maneira de levar essas obras até o público.
- É uma pena que, no audiovisual no Brasil, a gente ainda não tenha tantos filmes de terror e seriados conhecidos, porque essa é uma indústria que nos Estados Unidos funciona superbem e acaba sendo exportada - afirma.
Conforme o autor, no cenário brasileiro, o momento ainda é de criar alicerces para chegar a esse patamar.
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