Passagens proibitivas
Nos anos 1970 e início dos 1980, era raro andar de avião. Classe média não tinha acesso. Pacotes turísticos costumavam se valer de ônibus entre o litoral do Rio Grande do Sul e o de Santa Catarina. Nordeste representava uma quimera distante, talvez um momento marcante de exceção, como lua de mel.
Praias de cima do país apresentavam uma distância monetária de Caribe. Havia poucas companhias: Transbrasil, Varig, Vasp. Quem se dava ao luxo de um voo doméstico se sentia na primeira classe de um voo internacional. O serviço de bordo oferecia almoço, jantar, bebidas alcoólicas, brindes, cobertinha, manta.
O que tinha dentro da aeronave terminava servindo de presente para as crianças. Os pais usavam o que recebiam para renovar as lembranças com a sua prole.
Hoje as passagens voltaram a ser proibitivas, elitistas, exorbitantes. Com a diferença de que você viaja sem regalia e pagando tudo, engaiolado em poltronas apertadas.
Deve adquirir assentos à parte, bagagem à parte, lanche à parte. De parte em parte, acaba partido em pedaços e dívidas. A promessa de campanha de Lula não vem se cumprindo: "Nós vamos voltar e o pobre vai voltar para os aeroportos".
Se a aspiração do presidente era lotar o aeroporto como se fosse uma rodoviária, estamos mais para estaleiro abandonado, com voos vazios e cancelados e poucas opções de horários.
Nem os ricos estão conseguindo viajar. Não tem cabimento para quem precisa realizar reuniões em outros Estados, para quem é empresário ou executivo, para quem é consultor corporativo.
As companhias aéreas justificam o descalabro alegando que vêm se recuperando do prejuízo da pandemia. Mas quem não amarga igual retomada? Uma atriz de teatro gastou absurdos R$ 6,3 mil pela ponte área Rio-São Paulo, para comparecer à própria peça agendada na capital paulista. São US$ 1,3 mil dólares.
Os grupos de teatro não vão sobreviver. Empenharão toda a bilheteria para cobrir a logística. O bilhete jamais é seu. Tente trocar o dia ou o horário dele e verá que é o mesmo preço de uma passagem nova.
Carregar a família para a Bahia, ou Ceará, ou Pernambuco, com assentos para esposa, marido e filhos, é uma loucura, sob risco de internação. Levar a sogra, nem pensar. Acabou a caridade familiar. Corresponde a raspar o 13º salário. Não sobra para as despesas de alimentação no local.
Comprei um trecho de Confins a Porto Alegre, sem conexão, e custou R$ 1,4 mil. Quer rir de nervoso comigo? Usei milhares de pontos da milhagem para abater o valor. Foi uma perna apenas. Mas não qualquer perna. A perna direita de Cristiano Ronaldo, a perna esquerda de Messi.
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