06 DE NOVEMBRO DE 2023
CARPINEJAR
Um goleiro demitido campeão da Libertadores
Debaixo das traves da final da Libertadores, defendendo o Fluminense, consagrando-se campeão, estava um goleiro de 43 anos: Fábio. E não foi uma peça decorativa na campanha, mas protagonista, muralha, Espírito Santo de uma zaga virtuosa com o inspirado Nino e o raçudo Felipe Melo. Liderou o ranking de defesas difíceis, com 12 milagres.
Agora é sumariamente proibido chamar Fábio de velho. Ele destruiu o conceito de aposentadoria do futebol. Ampliou a longevidade numa posição que exige flexibilidade e reflexos. Testemunhamos uma gloriosa vingança, um felpudo tapa de pelica no preconceito.
Ronaldo, dono da SAF do Cruzeiro, deve estar profundamente arrependido, já que é o responsável pela saída do arqueiro de Minas. Achava que ele já tinha dado tudo o que tinha para oferecer. Mesmo não o classificando como ex-jogador, jamais o colocou como prioridade.
Por mais que Fábio tivesse aceitado a redução salarial, nunca atingiria o patamar pretendido na reformulação da Toca da Raposa. Seria inviável para um profissional com seu currículo. Só enxergo o preconceito com a sua idade como motivo da porta de saída.
Diante da fúria da torcida, rompeu-se uma história de amor quando foi dispensado o ídolo histórico, jogador que mais vestiu a camisa celeste, perto de completar a marca da milésima partida (saiu com 976 partidas).
Não chamaria o incidente de divergência de negociação, mas de demissão mesmo. Ninguém em sã consciência depõe assim um tricampeão brasileiro, tricampeão da Copa do Brasil, líder do vestiário, um monumento simbólico de entrega, um famoso pegador de pênalti por 17 anos, com 34 bloqueios de cobranças na marca da cal.
Fábio foi demitido do Cruzeiro em pura ingratidão, sendo que ele sozinho ostentava mais títulos do que a maior parte dos clubes na primeira divisão.
Ele é o novo Manga.
Assim como Manga, brilhou em mais de um escudo: Fluminense e Cruzeiro. Manga tornou-se rosto em bandeira do Botafogo, do Inter, do Grêmio, do Nacional do Uruguai, do Barcelona do Equador.
Assim como Manga, que exibe um dos maiores números de participações em edições de Libertadores, Fábio possui o recorde de jogos como brasileiro na competição internacional, tendo entrado em campo cem vezes. Assim como Manga, vem atuando em alta performance após os 40 anos - Manga somente pendurou as chuteiras aos 45 anos.
Assim como Manga, experimentou polêmica na troca de time - um escândalo em 1978, quando o pernambucano acabou por ser o primeiro jogador a sair do Inter para o Grêmio, formando a retaguarda de sonhos gremistas com Eurico, Ancheta, Vantuir e Dirceu.
Havia um acordo de cavalheiros entre a Dupla de que não se contrataria quem tivesse vestido a camiseta do rival.
Essa transgressão a um pacto tácito, jamais oficial e assinado - ainda que houvesse uma negociação com o Coritiba, detentor do passe de Manga -, mudou a história do Gre-Nal. A partir da exceção, vários jogadores passaram do Inter para o Grêmio e vice-versa. O mais conhecido caso é a transferência milionária de Batista, em 1981.
Com Fábio, o tempo disse quem estava com a razão. O tempo era aliado do goleiro, hoje incontestável campeão da Libertadores. Não seu inimigo, como Ronaldo costumava acreditar.
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