29 DE NOVEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
INFRAESTRUTURA ADAPTADA
Está em elaboração por um conjunto de institutos de pesquisas e universidades o Plano Nacional de Defesa Civil (PNDC). O instrumento, fruto de um convênio com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, vai formular princípios e diretrizes e estabelecer metas para fortalecer a gestão de riscos de desastres nacionais no país frente ao cenário de maior frequência e violência de eventos climáticos, decorrência do aquecimento global. Um dos vários aspectos contemplados se refere à importância de construções mais resistentes, que possam suportar enchentes de grandes proporções e enxurradas.
O tema foi tratado em reportagem de Anderson Aires publicada ontem em Zero Hora, que traz alerta de engenheiros sobre a necessidade de reforço nas inspeções e nos trabalhos de reparos em pontes. Há ainda a advertência quanto à conveniência de modelos de construção serem repensados. Os diversos episódios de chuvas fortes e prolongadas ao longo de 2023 levaram à queda de várias estruturas pelo Estado, e possivelmente, inúmeras outras sofreram danos estruturais. É uma questão de segurança, portanto, verificar o estado dessas travessias, para serem diminuídos os riscos de transtornos e tragédias. A negligência pode ter alto custo.
Neste ano, ao menos cinco pontes de rodovias estaduais ruíram. Apenas em Caraá, no Litoral Norte, um das cidades mais atingidas pela chuvarada de junho, 72 pontes ou pontilhões foram destruídos ou avariados. Apesar de não existir um levantamento detalhado, não é difícil supor que danos semelhantes, mesmo que em menor escala, se espalharam pelo interior gaúcho, em especial nas pequenas vias municipais que cortam zonas rurais. Recompor acessos cortados quando uma ponte é levada pela fúria das águas é muito mais trabalhoso e caro do que recuperar uma estrada.
Não estão em jogo apenas a possibilidade de contratempos, dificuldades para chegar a determinados locais ou obstáculos para escoar a produção e transportar mercadorias. Há risco à vida. Basta lembrar do episódio de janeiro de 2010, quando a força das águas do Rio Jacuí, depois de dias de intensas chuvas, derrubou a ponte da RS 287, entre Restinga Seca e Agudo, na região central do Estado. Cinco pessoas morreram após a correnteza fazer estrutura ceder e ruir.
Os especialistas ouvidos na reportagem avaliam que as pontes no Rio Grande do Sul não vêm recebendo a atenção que deveriam em termos de inspeção e manutenção. O perigo aumenta com o prognóstico de episódios de chuvas torrenciais e duradouras mais repetidos devido às mudanças climáticas. No curto prazo, a luz amarela também se acende pela ocorrência do fenômeno El Niño, com tendência que predomine até meados do próximo ano. Os engenheiros advertem ainda que passa a ser temerário basear-se nos dados históricos para o dimensionamento das estruturas sobre cursos d´água. Existem evidências a advertir que os parâmetros do passado talvez não sejam os melhores para prever o comportamento da natureza no futuro.
A construção e a manutenção de pontes, estradas, barragens e moradias devem levar em conta essa nova realidade. Serão necessárias novas tecnologias, materiais e métodos para a maior resistência a eventos extremos. Além de significarem mais segurança, durabilidade e resistência, podem se refletir em economia de recursos ao longo do tempo.
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