11 DE NOVEMBRO DE 2023
MARTHA MEDEIROS
De volta aos Beatles e Rolling Stones
Milhares de pessoas têm sido expulsas de seus lares, desabrigadas por bombas, enchentes e tornados. Quem ainda tem casa, como você e eu, também anda se sentindo desabrigado, só que num sentido metafórico: vive para fora e nem lembra mais o que "casa" significa.
Temos ido longe demais em nossa ganância. Guerras estão fora de controle. A Amazônia é incendiada por interesses financeiros que destruirão o planeta. Não é mais uma ameaça catastrofista, e sim uma realidade comprovada pelas mudanças climáticas e pela extinção de bichos, plantas e tribos. Estaria a tecnologia indo longe demais também, criando uma imitação de vida, até nos tornar dispensáveis?
Jovens não sabem se terão emprego no futuro. Parecem pouco interessados em amor e sexo. Não querem filhos. E nada disso faz parte de uma revolução de costumes, de um desejo libertário ou de um ideal qualquer: é um surto de anemia.
O mundo, em constante trabalho de parto, deveria dar à luz uma era mais pacífica, menos monetarista, menos fanática e com pessoas conscientes das questões ambientais, só que adeus, otimismo. Somos oito bilhões e quantos robôs?
Em meio à nossa falência como espécie (é inacreditável que ainda se acredite na violência como solução para o que for), a música vem em nosso socorro e conforta a velha geração a que pertenço, a do flower power. Vem Mick Jagger, aos 80 anos, cantar como se tivesse 30, e vem Lennon, assassinado por um lunático, confirmar que não está morto nem enterrado. Se os Beatles foram mais famosos que Jesus Cristo, não sei, mas entendem um bocado de ressurreição.
Casa é o lugar que acolhe, que permite que você seja quem é, sem hipocrisias. É o espaço protegido da sua alma, área reservada para plantio e colheita de suas emoções mais autênticas. É quando você é chamado para dentro. Pois voltei para casa ao escutar Hackney Diamonds, o recém-lançado álbum dos Rolling Stones, considerado pela crítica o melhor depois de Tattoo You, e aí se vão 40 anos. Tenho me exercitado escutando Stones, dirigido escutando Stones, e é como se eu estivesse de volta ao primeiro quarto que foi só meu, onde escrevia versos adolescentes como: "o que uma guitarra faz/ nenhum rapaz comigo já fez".
Voltei para casa, também, ao escutar Now and Then, a emocionante canção inédita dos Beatles, a prova de que o sonho não acabou, de que vale a pena dar uma chance à paz, de que tudo que Lennon pediu que imaginássemos não era tão utópico. Quem diria? Os Beatles nas paradas de sucesso outra vez, uma balada de quatro minutos silenciando os bombardeios que ninguém mais aguenta ouvir. Aqueles mesmos garotos de All You Need Is Love devolvendo-nos teto, chão e alento. Eu andava carente desse lar, doce lar.
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