30 DE NOVEMBRO DE 2023
CARPINEJAR
Nem sempre o motorista é o culpado
As campanhas de trânsito se devotam à figura do motorista: que tenha prudência, que não ultrapasse, que não exceda a velocidade da pista, que use cinto, que não beba. Mas elas deveriam dirigir sua atenção também para a melhoria nas condições de nossas estradas, uma das principais vilãs das mortes rodoviárias.
Nem sempre o condutor é o culpado. Não adianta ser aplicado, obediente às leis, precavido, se existem buracos e crateras na pista que podem desviar o veículo perigosamente a um desfecho fatal, ainda mais quando é de carga pesada, como caminhões ou carretas.
Quem trafega pela RS-324, entre Casca e Nova Prata, ou pela RSC-470, entre Bento Gonçalves e Nova Prata, costuma rezar para voltar ileso à sua casa.
A situação é crítica há mais de uma década, e nada mudou. Em um breve levantamento no meu grupo de motoristas profissionais do WhatsApp, enumero um ranking das rodovias mais castigadas:
BR-153
BR-287
BR-392
RS-122
RS-447
RS-020
RS-324
São perdoáveis os bloqueios em função das chuvas. É uma contingência do tempo, de eventos climáticos anormais. Mas não dá para tolerar a indiferença histórica com esses trechos. Você paga pedágios, e jamais tem a sua tranquilidade como troco.
É necessário entender que estrada não é domínio exclusivo da Secretaria de Transportes do Estado do Rio Grande do Sul ou do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem, atinge plenamente a esfera da saúde pública. Se nossas vias estivessem mais seguras, reduziríamos a lotação de nossos hospitais.
Ou seja, amenizando o problema das ligações regionais, gastaremos muito menos com os hospitais públicos. Trata-se de uma economia indireta. E, quem sabe, de uma redução astronômica de gastos. A ausência de uma gestão integrada acaba nos precipitando a cometer os mesmos erros duas vezes. Cada um cuida da sua pasta, e os efeitos são nocivos e cumulativos para todos.
De acordo com nova pesquisa anual da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 72,2% das rodovias do Estado encontram-se nas categorias de regular, ruim e péssima. No ano passado, esse percentual estava em 66%.
Sobram menos de 30% trafegáveis e, deste contingente, 5% são exemplares. Dos 8.798 quilômetros analisados do fluxo gaúcho, apenas 436 quilômetros estão excelentes.
Cerca de 70,1% das nossas estradas têm sinalização regular, ruim ou péssima. No trecho entre São Vendelino e Bento Gonçalves, na RS-446, por exemplo, as pistas não são pintadas, tampouco contam com olho de gato, mostrando-se impraticáveis durante a neblina.
O que é mais assustador no raio X da CNT: apesar da péssima pontuação, a estrada gaúcha é uma das melhores do país. O que fornece uma noção bem clara da omissão generalizada.
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