07 DE NOVEMBRO DE 2023
NÍLSON SOUZA
Messi, Maradona, Pelé e o Papa
Um pouco por natureza, outro por dever de ofício, sou um cético de carteirinha. Quando um amigo me contou na semana passada que o papa Francisco teria dito que Pelé foi melhor do que Messi e Maradona, retruquei imediatamente:
- Só pode ser fake news! Ele não ia dizer isso.
E fiquei pensando: se disse, fragilizou ainda mais o catolicismo na Argentina, onde a religião já perde feio para duas poderosas seitas futebolísticas - o maradonismo e o messianismo. Além disso (ainda eu imaginando), teria sido uma bola picando para o tal Javier Milei, que considera o Papa um comunista juramentado. O candidato da extrema direita, favorito para conquistar a presidência, adoraria uma declaração dessas do santíssimo desafeto para se fortalecer ainda mais como salvador da pátria na véspera do segundo turno.
Fui investigar. O Papa realmente abordou o assunto numa entrevista exclusiva para o telejornal da RAI, emissora pública italiana. Falou sobre sua antiga namorada, sobre meio ambiente, sobre as guerras atuais e, provocado pelo entrevistador, deu o seguinte pitaco sobre futebol.
- Maradona, como jogador, foi grande, mas falhou como homem. Messi, por sua vez, é muito correto, um cavalheiro. Mas, para mim, o grande cavalheiro foi Pelé, um homem de coração.
Ops! Cavalheirismo é uma coisa, futebol é outra. Aliás e infelizmente, as duas coisas raramente andam juntas nos tempos atuais. O que se vê no futebol é a total falta de cavalheirismo, muita simulação, tentativas constantes de enganar o juiz, atletas e treinadores querendo levar vantagem de qualquer maneira, torcedores se digladiando como se também estivessem em guerra.
Nesse contexto bélico da bola, nem um decreto divino seria suficiente para pacificar a disputa apaixonada pelos três gênios do futebol. Porém, nos quesitos cortesia, civilidade e gentileza, talvez seja menos polêmica a escolha do número 1. Maradona fora, ele nunca fez questão de ser bem comportado. Aliás, se o Papa fosse tão comunista quanto o acusa Milei, el pibe de oro seria o seu preferido.
Mas foi logo descartado pelo Sumo Pontífice. Pelé, com todo respeito à opinião papal, também teve recaídas comportamentais, tanto dentro de campo quanto fora dele. Dos três, Messi me parece mais candidato a mocinho, mesmo já tendo levado dois ou três cartões vermelhos ao longo da carreira.
Mas craque mesmo é o senhor Bergoglio. O entrevistador perguntou sobre futebol, ele aplicou-lhe um drible e falou sobre comportamento.
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