28 DE NOVEMBRO DE 2023
CARPINEJAR
A floresta visionária de Rubens Minelli
O sexto rei de Portugal, Dom Dinis, conhecido como Rei Lavrador, foi um dos maiores entusiastas para a plantação de pinhais, aumentando a área florestal da Mata Nacional de Leiria com a meta de um pinhal para cada português.
Ele estendeu a área iniciada pelo seu pai, Dom Afonso, substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as populações de madeira, mas também evitar que a areia cobrisse as terras aráveis.
O que ele não esperava era que sua atitude seria premonitória e decisiva para as descobertas marítimas, séculos depois. A abundância de tal matéria-prima determinou o favoritismo português nas corridas oceânicas. O pinhal tornou-se o ponto decisivo para a construção de embarcações, ideal na vedação dos cascos das caravelas.
Um gesto louco e impensável para sua época serviu para abastecer a época seguinte. Esse caráter pioneiro moldou a trajetória do treinador de futebol Rubens Minelli, que se despediu de nós na última quinta-feira, aos 94 anos.
Ele preparou o futebol do futuro. Um futebol total, preenchendo os espaços. Foi uma das primeiras mentes táticas a expor a vantagem de se pressionar a bola do adversário. Posicionou-se, de modo ferrenho e igualmente visionário, a favor da condição física, preparando seus atletas para suportar maratonas. Tanto que preferia treinos com a grama alta do estádio, para redobrar a resistência.
Antes dele, as equipes se valiam do avanço previsível pelas jogadas laterais, com o uso de pontas. Depois dele, houve um maior domínio do meio-campo, com ataque baseado na projeção dos volantes.
Consagrou-se como tricampeão brasileiro antes da unificação dos títulos por parte da CBF, conquistando o campeonato nacional com o Inter, em 1975 e 1976, e com o São Paulo, em 1977. Brilhou ainda no seu 4-3-3 como comandante do Palmeiras em 1969, no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, lançando a novidade de um "falso ponta" para povoar o meio. Ganhou o mundo ao ser campeão no Al-Hilal e trouxe alegria às torcidas do Galo, Grêmio (1985-1989) e Paraná.
Quem não se lembra do implacável Inter do bi nacional? Ele criou uma "inversão do triângulo": dois volantes marcavam os dois meias dos rivais, e sobrava Falcão livre para finalizar. Aquela tabelinha Escurinho-Falcão de cabeça, uma das jogadas mais antológicas do Beira-Rio - com um gol de Falcão estendendo a perna até o seu limite, no último minuto da semifinal do Brasileiro, em cima do Atlético-MG -, teve insight de Minelli.
Assim sempre existia um homem surpresa, subindo as linhas e impondo uma superioridade numérica o tempo todo em cima da defesa. Minelli não morreu, está absolutamente vivo no futebol moderno. Suas sementes viraram naus dos vindouros descobrimentos.
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