terça-feira, 7 de novembro de 2023


07 DE NOVEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

MAIS ATENÇÃO AO TRÁFICO DE ARMAS

Merece crédito todo esforço voltado a evitar que armas, em especial as de grosso calibre, cheguem às mãos de grupos criminosos. O poder de fogo é um dos fatores que fazem bandidos terem mais ousadia em suas ações, inclusive em eventuais enfrentamentos com as forças do Estado. Neste sentido, é adequada a iniciativa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul de criar uma delegacia especializada na investigação de tráfico de armas. Conforme relatou o secretário Sandro Caron, policiais que farão parte da equipe estão sendo treinados desde agosto, e a expectativa é de que a nova estrutura passe a operar ainda no primeiro semestre do próximo ano.

A circulação ilegal de armas deve ser uma preocupação especial em um Estado situado na fronteira, como é o caso gaúcho com a Argentina e o Uruguai. Em 2018, o Grupo de Investigação da RBS fez uma série de reportagens provando a facilidade de se adquirir armamento no Uruguai e como um grupo de quatro policiais do país vizinho forneceu mais de 400 armas a facções que atuam no Rio Grande do Sul. Mostrou ainda que esses mesmos fuzis e pistolas foram usados em ao menos 12 crimes cometidos aqui e em Santa Catarina.

Ao longo deste ano também foram vários os episódios de operações que encontraram verdadeiros arsenais de organizações criminosas, enterrados em pátios de residências e imóveis rurais. Em agosto, a Brigada Militar (BM) achou 71 armas em uma propriedade às margens da RS-030, em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte. Até uma submetralhadora foi achada. Em maio, outras 26 armas foram apreendidas em um sítio de Gravataí, na Região Metropolitana. Em junho, a Polícia Federal encontrou um fuzil e nove pistolas enterrados em um pátio de uma casa em Capela de Santana, no Vale do Sinos.

Esses são apenas alguns exemplos entre diversas operações realizadas apenas neste ano. Mas é possível estimar que a quantidade encontrada e retomada pelas polícias é apenas uma parcela do volume que chega ao Estado tanto do Exterior quanto de outras unidades da federação a partir das ligações das facções locais com organizações que operam baseadas em Estados como Rio de Janeiro e São Paulo. Só a BM apreendeu, de janeiro a setembro, mais de 4,2 mil armas de fogo, conforme estatísticas da corporação.

A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) determinada pelo governo federal, iniciada ontem, também tem o objetivo de combater o comércio de armas ilegais. A ofensiva com a participação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica vai atuar em portos e aeroportos do Rio e de São Paulo, mas também nas regiões de fronteira no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em Mato Grosso, onde o controle da circulação de entorpecentes e outros produtos proibidos tem se mostrado difícil ao longo dos anos. 

O crime age hoje de forma ainda mais interconectada, com vínculos e negócios com diferentes regiões do país e do Exterior. Com isso, passa a ser também essencial um trabalho integrado das forças de segurança, em especial na área de inteligência, com a troca de informações.

Enfraquecer as organizações criminosas requer apertar o cerco ao tráfico de drogas, neutralizar lideranças, asfixiar financeiramente e bloquear atividades de fachada usadas para lavagem de dinheiro. Mas também é vital diminuir ao máximo a circulação de armas que, ao fim, são os instrumentos usados para assaltar, assassinar e confrontar o poder do Estado. Assim, aguarda-se que a nova delegacia voltada a desarmar delinquentes conte com uma estrutura adequada para a missão proposta e colabore para trazer mais segurança aos gaúchos.

OPINIÃO DA RBS

Nenhum comentário: