OPINIÃO DA RBS
NOVA OPORTUNIDADE PARA A CEITEC
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na segunda-feira decreto que reverte a extinção da Ceitec. Era uma promessa de campanha, diga-se. Dessa forma, o governo federal tenta dar uma nova chance para que a estatal enfim cumpra a missão para a qual foi criada: ajudar o país a diminuir a dependência externa no setor de semicondutores.
O grande desafio, a partir de agora, será demonstrar que desta vez é infundado o ceticismo em relação à empresa. Não foram poucas as vezes em que gestões da estatal localizada em Porto Alegre anunciaram planos para fazer a empresa competitiva e viável financeiramente. Ao longo dos anos, desde 2000, foram mais de R$ 1 bilhão injetados na Ceitec, mas nunca as receitas se aproximaram minimamente dos custos.
A companhia chegou a entrar no programa de desestatização de governos anteriores. Depois, decidiu-se pela liquidação, agora formalmente revertida. A grande contribuição da companhia, sem dúvida, foi permitir o desenvolvimento de um bom número de profissionais em um setor estratégico. Muitos hoje estão na iniciativa privada, no país e no Exterior.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, ontem, a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, revelou que o governo pretende investir mais R$ 110 milhões na Ceitec em 2024. Os recursos serão empregados em equipamentos novos e recursos humanos. A projeção é começar a produzir em um prazo de dois anos.
Ainda é necessário conhecer mais detalhes do planejamento para a Ceitec daqui para a frente. Conforme a ministra, a intenção é tentar ocupar nichos de chips de menor complexidade, como os usados na indústria automotiva e em equipamentos ligados à transição energética. A empresa conta hoje com cerca de 70 colaboradores, e a intenção é somar outros 50.
Deve-se aguardar, portanto, as minúcias dos planos de trabalho e de atualização tecnológica - após mais de dois anos de produção paralisada - e as estratégias comerciais. Espera-se que seja uma proposta consistente e pragmática, de acordo com a realidade da empresa e os naturais obstáculos que são enfrentados por estatais, como a burocracia, uma amarra limitadora para um setor que evolui em altíssima velocidade. Segundo a ministra, a Ceitec deve ser autossustentável em sete anos. A conferir.
A existência de certa desconfiança, baseada no passado recente, não exclui votos de que agora o caminho seja diferente. Seria positivo para a Capital, o Estado e o país se a empresa se mostrar viável, ajudar a lapidar mão de obra qualificada e ampliar domínio nacional da tecnologia. Já seria uma contribuição relevante para a consolidação do setor no Brasil.
O inequívoco é que os semicondutores se converteram no insumo industrial mais importante no mundo, presente em todo tipo de equipamento. Não por acaso, tornaram-se ponto central na disputa geopolítica e econômica entre China e EUA. Grande parte da produção global está concentrada em Taiwan, foco de tensões entre as duas potências. Dominar o conhecimento e ter a produção de chips, inclusive com volume, seria estratégico para o Brasil.
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