terça-feira, 14 de novembro de 2023


14 DE NOVEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Prejuízo do torcedor

A dupla Gre-Nal sempre traz prejuízos para seu torcedor. Pela fantasia absurda de ser campeão da Libertadores, gastei em passagens e hotel para acompanhar meu time no Rio de Janeiro. Depois em mais passagens para assistir ao duelo da volta com o Fluminense, pois tinha palestra na manhã do mesmo dia em Belo Horizonte.

Não contei para minha esposa o rombo no orçamento de novembro. No fim das contas, o Inter luta para não ser rebaixado, não desfruta de reservas compatíveis, Coudet apresenta pífios 41% de aproveitamento. Apanhamos em Porto Alegre dos dois clubes já rebaixados: Coritiba e América-MG.

O céu e o inferno no Internacional têm ligação direta. Quando esperamos tudo, prepare-se para a queda, para o traumatismo craniano. Inter não reage sadiamente com expectativas altas. É assim nos últimos 10 anos. Possui uma mentalidade fraca, uma resistência psicológica nula. Vai bem exclusivamente quando ninguém espera nada dele. Sua única liberdade é o fracasso.

Agora inventou de protagonizar vexame com o Beira-Rio lotado. Renunciamos à mística da supremacia caseira, à longeva fama de resolver em casa com o apoio da massa vermelha. Temos mais chances como visitantes do que como anfitriões - o que fizeram com o Inter?

Os gremistas sentiram também o tombo de sonhar com um título. Viveram o favoritismo pleno a quatro rodadas do encerramento do Brasileirão e viram a liderança escapar por uma desatenção letal.

Apanhei um táxi no centro da Capital, na Praça da Alfândega, depois de evento na Feira do Livro no domingo, na hora do fatídico embate do Tricolor com o Corinthians. O taxista se mostrava suarezista roxo. Estava roendo as unhas e escutando pela Rádio Gaúcha a tempestade que caía na Arena. Grêmio perdia com um a mais no campo.

Como colorado, eu me comportei de acordo com a etiqueta da secação presencial, com aquela contida compaixão diante do sofrimento do rival: permanecer quieto, mudo, nem respirar alto.

Ele xingava, eu não me mexia. Qualquer careta poderia ser entendida como flauta. Quando chegamos ao meu endereço, ele confessou que não contava com Pix. A corrida custara R$ 36. A sorte é que eu guardo dinheiro para emergências no fundo da carteira, ainda que seja uma nota alta. Estendi uma cédula de R$ 100.

Mas ele se encontrava tão transtornado que me deu uma nota de R$ 50, duas de R$ 20, cinco de R$ 2 e duas moedas de R$ 1.

Eu saí do táxi com lucro, com R$ 102! Com R$ 2 a mais do que havia repassado. Quando eu fui conferir o troco errado, já na porta de casa, voltei correndo na chuva, tentei chamá-lo, mas ele não parou: arrancou o carro para ouvir, melancólico e sozinho, a derrocada da taça.

Preciso devolver R$ 66 para o taxista. Que me procure por e-mail: carpinejar@terra.com.br - engraçadinhos não terão vez, pois conheço o rosto do motorista e seu olhar aflito e relampejante. Minha dívida é a menor de todas. O Grêmio e o Inter devem um título relevante para os gaúchos após tanta esperança à toa.

CARPINEJAR

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