quinta-feira, 9 de novembro de 2023


09 DE NOVEMBRO DE 2023
TULIO MILMAN

Ajuda humanitária seletiva

Ajuda humanitária já! Embora tanta gente use esta expressão de forma errada ou mal-intencionada, não há como ficar indiferente a tanto sofrimento no Oriente Médio. Por isso, proponho aqui uma reflexão. Ajuda humanitária não é uma ideia que nasce e vive sozinha. Para ser honesta e verdadeira, deve ser compreendida sob o guarda-chuva da justiça, de uma forma ampla e humana. Se é disso que estamos falando, e não de preconceito disfarçado, de oportunismo ou de radicalismo político, é nosso dever exigir três ações intimamente vinculadas, inseparáveis e concomitantes:

1) Ingresso de alimentos, remédios e água para a população civil de Gaza.

2) Prisão e condenação imediata de todos os terroristas - e de seus líderes - que assassinaram mais de 1,4 mil civis em Israel.

3) Libertação imediata dos mais de 200 reféns mantidos pelo Hamas em Gaza e julgamento de quem os sequestrou ou colaborou no crime.

A ordem destes fatores não obedece a qualquer hierarquia de prioridades. Para mim, só a defesa intransigente e imediata destas três providências conversa de forma honesta com o verdadeiro conceito de "ajuda humanitária". Leio, vejo e ouço muita gente defendendo uma ajuda humanitária seletiva, sem que a libertação dos reféns e a prisão e julgamento dos terroristas sejam sequer mencionados. Isso não é fazer justiça. Isso é ignorância, má-fé ou preconceito. Ou tudo isso ao mesmo tempo.

Lá se vão mais de 10 anos, estava eu em bar no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, quando encontrei o hoje procurador-geral de Justiça do RS, Alexandre Saltz. Nos conhecemos há algum tempo. Nos cumprimentamos e, logo depois, o Saltz me perguntou: "Viste aquela bandeira pendurada ali?". E apontou para uma parede. 

"Sim, é da Arábia Saudita". Ele me corrigiu: "Não, é do Hamas". E era mesmo. Já naquela época, sabíamos o que isso significava. Voltei para casa e descobri o telefone do proprietário do badalado point porto-alegrense. Liguei para ele, na esperança de que desconhecesse o que aquela bandeira representava. Expliquei, com calma e ponderação. Ele disse: "Eu não sabia. Um cliente me deu e eu pendurei".

Tive a sensação de que ele falava a verdade. Tanto que, no mesmo dia, mandou tirar. Hoje, vejo muita gente pendurando bandeiras do Hamas por aí. O que mais me assusta, em alguns casos, é que sabem exatamente o que ela simboliza.

TULIO MILMAN

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